“Apenas os pequenos segredos precisam ser guardados, os grandes ninguém acredita” (H. Marshall)

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A Experiência Serpentina

Neste profético Ano da Serpente de 2025, trazemos um apanhado de nossas experiências mais interessantes com as serpentes ao longo do anos, sem limitar-nos porém ao plano físico, dentro de uma sequência de evolução espiritual orientada sobretudo por ensinamentos emanados por Videntes -Sibilas e Pitonisas. 

Os relatos seguem uma ordem cronológica, estando simplificados para ater-nos ao tema em questão, e envolvendo naturalmente xamanismo, misticismo e ocultismo, tão próprio do simbolismo integrador da serpente. 

Apesar de ser ágil também em outros elementos -com destaque para a água como veremos-, existe um vínculo profundo entre a serpente e o Elemento Terra, daí observaremos a importância que os presentes relatos terão em questões de Natureza -especialmente através de ashrams e comunidades.

Que estes breves fragmentos biográficos possam servir pois de roteiro simbólico e de inspiração aos aspirantes da evolução interior. "Apenas para Iniciados".


I. A HIPNÓTICA

Quando criança tive a oportunidade de presenciar uma cena insólita à margem de uma estrada: um passarinho caminhando diretamente para dentro da boca de uma serpente. Fiquei imaginando aquilo como um poder hipnótico da cobra, eventualmente pode ter alguma outra explicação. O fato porém é conhecido e faz parte do rico "folclore" ofita. 

Dizem alguns que a serpente produz um fascínio e que algumas presas ficam imóveis para tentar se camuflar. Os hipnotizadores costumam dizer que animais não podem ser hipnotizados ou receber sugestões. Porém aquilo que vi com meus olhos vai além de tudo isto.

A partir dali passei a olhar as serpentes com outros olhos. Algo de misterioso haveria naquele bicho. Nestes tempos eu já era um jovem apaixonado pela Natureza, e a percepção do “poder serpentino” abriu um canal direto e precoce com a mística.

A ideia da hipnose naturalmente nos leva a pensar em coisas como magnetismo e fascinação, o que conduz ao próprio coração dos mistérios do Ocultismo. O primeiro contato do aspirante com as energias ocultas é através da força da serpente interior, seja explorando ou sublimando estas energias. Polêmicas à parte, o assunto remete à questão central das Polaridades. O equilíbrio dos contrários é o segredo da energia, como demonstram os princípios da eletricidade. Nisto está pois o mistério da criação.

Com efeito, a morfologia versátil da serpente presta-se a representar as transformações e a dialética das energias: a serpente evoca o feminino quando está enrolada, e evoca o masculino quando está estendida. No entanto, ela também se mostra comumente nas duas formas em sua posição de bote, em alusão à síntese almejada das energias.

E de repente olhando agora esta imagem da serpente e do pássaro, lembro até da serpente emplumada, Quetzalcoatl. A Naja inclusive corresponde a uma “serpente alada”, como no caduceu ou em kundalini, daí o seu culto especial.


II. A ADVERTÊNCIA 

Não é novidade para ninguém que o tema de Kundalini costume ser acompanhado de graves advertências. A serpente está afinal associada à morte em função do seu veneno fatal. A surpresa para mim -como um investigador experimental por excelência- é haver recebido um aviso a respeito dos próprios Mundos Internos, envolvendo ademais uma literatura que a princípio se reputaria ilibada e tradicional...

Quando eu vivia no ashram da Grande Fraternidade Universal dos arredores de Porto Alegre, no qual ingressamos como renunciante e Brahmacharya, a certa altura comecei a fazer experimentos de meditação com a Alquimia Taoísta. Isto era o mais puro Ocultismo: o manejo direto das energias, no esforço de fazê-las fluir e se movimentarem pelos canais sutis. E aparentemente as minhas energias realmente estavam sendo movimentadas através disto. Seja por temperamento ou aspiração, eu necessitava de práticas dinâmicas de meditação. Porém, certa noite tive um sonho de advertência. 

Na primeira cena havia uma robusta casa sobre uma serpente adormecida; e na segunda cena a serpente desperta e se incomoda com o peso da casa, tratando de desvencilhar-se dela e a transformando numa pobre palafita que tomba ao chão... 

Entendi o recado e abandonei a técnica. Eu ainda não estava preparado para fazer despertar tamanha energia. Não imaginava ademais na época que tampouco convém mexer com certas energias que a humanidade já desenvolveu nesta e em outras raças. Deveria ser mais paciente e aguardar chegarem as informações corretas. A partir dali fixei-me mais à meditações de “Presença”, buscando usufruir da paz do silêncio e da atemporalidade reinante. Certamente temos aqui uma forma de refinamento das energias. Porém mais tarde eu descobriria que até já estava começando a usar espontaneamente boas técnicas criativas durante o Hatha Yoga sem saber. Neste ambiente de poderosa egrégora, aproveitei também para investigar ostensivamente os conhecimentos da Teosofia, alavancados pela primeira grande Sibila moderna da Hierarquia que foi Helena P. Blavatsky.


III. A GUARDIÃ

Na minha primeira ida à Chapada dos Guimarães, visando acampar no local para começar a “explorar” a Região Centro-Oeste, descobri uma pequena caverna de onde saia um córrego. Resolvi entrar na caverna para meditar dentro dela e, quem sabe, também adotar como morada temporária. Assentei-me numa pedra para meditar e quando olho para a vertente das águas, havia uma grande serpente enrolada ao lado do olho d’água. Achei aquilo lindo demais. 

Na mitologia hindu as serpentes estão com efeito relacionadas com as águas -e em breve eu também descobriria uma das suas razões. Contudo decidi não violar este espaço sagrado da Natureza -uma verdadeira “Gruta de Shiva”-, limitando-me a fazer visitas ocasionais ao local. 

Refletindo agora sobre o simbolismo, a caverna tem relação com o coração, mas também com o chakra básico onde reside kundalini enrolada. Com efeito eu estaria concluindo o meu noviciado espiritual no período, após anos de intensa disciplina yogue e dedicação espiritual. Simbolicamente -reflito hoje-, a serpente estava ali para me saudar e informar que as coisas estavam maduras para a minha iniciação. Ademais tudo aquilo era um importante símbolo do feminino, da Shakty, e naqueles anos de autocultivo eu havia me tornado um homem bem melhor, embora ainda não tivesse muita consciência disto.

A serpente da gruta era uma guardiã da nascente, alguém que zelava pela pureza das fontes. Eu também era então alguém que aprendera a me observar, controlando aquilo que emanava de minha mente e coração. Para o místico tudo tem uma mensagem, nada é casual e o Universo dialoga com ele continuamente. Por isto não surpreende que a Astrologia “funcione”, tal como pode funcionar qualquer outra das chamadas “Artes Divinatórias”.

Enfim, aquela cena era para mim como uma recepção simbólica à Região e tudo o que viria a significar para mim, em termos de descoberta espirituais e de comunhão profunda com a Natureza...


IV. A COMPANHEIRA 

Na Comunicampo, comunidade alternativa pioneira do Brasil -e que era o objetivo final desta viagem ao Centro-Oeste-, eu morava numa casinha de palhas cercada por muitas palmeiras babaçus e outras árvores do Cerrado mato-grossense. Por alguma razão desconhecida uma grande jiboia vivia exatamente defronte à cabana. Frequentemente eu a encontrava por ali, com seus lentos movimentos e sua bela e estonteante aparência. A jiboia é considerada a única serpente com aparência de cobra venenosa, sem todavia ser; seu nome científico boa constrictor sugere a sua forma específica de caças suas presas, embora não seja a única. 

Havia muitos outros animais selvagens na região, não era raro topar com todo tipo de onça e os veados sempre frequentavam as nossas plantações. Ao colocar uma fruta para atrair os pássaros durante as refeições, facilmente contava-se mais de vinte espécies. Porém aquela jiboia era para mim o símbolo máximo de um lugar a um só tempo selvagem e hospitaleiro. 

Neste belo local encontrei o conhecimento que permitiria sedimentar o meu discipulado, na forma de um Novo Evangelho de Luz trazido por um importante Instrutora, a sábia Helena Roerich, que era também como uma outra exaltada Pitonisa dos Mestres. O Ensinamento da Agni Yoga traz as indicações básicas de como desenvolver Kundalini com segurança: cabe trabalhar com os centros da cabeça e do coração. Como se trata de centros racialmente novos, não há riscos de atrofia ou de superestimulação. Este processo já seria pois como uma síntese entre explorar e sublimar as energias internas.

O estímulo viria de um ponto de luz imaginário, ou mesmo a partir do Sol, segundo a premissa “a energia segue o pensamento”. Outras escolas completariam as informações. E como sugeri em item anterior, eu já começara tais práticas intuitivamente anos antes num ashram através do Hatha Yoga, embora sem ser o foco central que agora se tornava.

Na Maçonaria, o segundo grau é chamado de “Companheiro”. De todo modo, ali também estava um símbolo precioso da shakty esperada, rondando o meu humilde lar...


VI. A MERGULHADORA

A "experiência" seguinte obtive noutra comunidade chamada Fraterunidade, em Goiás. De certo modo esta experiência integra-se à anterior pois se tratava mais ou menos do mesmo grupo que se reorganizava então em novo local, e sem grande distância no tempo. Importa mencionar porém que nesta nova Comunidade tive os meus primeiros contatos com a obra de Alice A. Bailey, que foi a terceira grande Pitonisa moderna da Hierarquia, e que tanta importância teria em minha vida oculta.

O caso em questão foi simples mas ainda assim me surpreendeu, demonstrando toda a versatilidade deste animal. Não era raro vermos cobras aqui e ali no Cerrado, e de todas as cores e tamanhos. Por precaução costumávamos espantá-las quando eram mansas, já que as venenosas simplesmente não se assustam com as pessoas. Numa ocasião em que eu ia tomar um banho no rio da comunidade, devo ter espantado sem querer uma cobra que se jogou nas águas e começou a nadar numa velocidade estonteante. 

Eu não sabia então que as serpentes possuíam tal intimidade com as águas e tamanhas habilidades de nado. Na terra elas já costumam ser ágeis e rápidas quando querem, porém é nas águas que as cobras realmente tem o seu poder, sendo este portanto o seu verdadeiro elemento. Por regra, as cobras são consideradas répteis e não anfíbios. Ainda assim existem cobras anfíbias como a cobra cega, e também semi-aquáticas como a grande sucuri que passa a maior parte do tempo dentro da água. As cobras se destacam assim juntamente com os felinos por sua forte desenvoltura em todos os elementos.

Que lição podemos tirar desta “experiência”?! A destreza das cobras na água simboliza liberdade, segurança e poder. Podemos considerar assim como uma maestria na esfera psíquica, ou uma liberação dos seus miasmas. 

Nesta altura a minha yoga solar já andava bastante avançada. Trabalhando com perseverança e criatividade, certos efeitos começavam a surgir, em termos de elevação de minha frequência vibratória. Eu sentia-me leve e altamente energizado. Um som semelhante ao sibilo da serpente -e que também defini como “o som da luz”- passou a me acompanhar desde então. Certamente eu havia “mergulhado” num novo oceano de energias, a partir do qual gozava de grande poder e liberdade diante do mundo. 

Esta seria pois uma das razões pelas quais se denomina muitas vezes aos iniciados deste grau como “serpentes”, como os Nagas da Índia, e quem sabe as Sibilas e Pitonisas da Grécia. Termos como Naga, Jnana e Ajna são anagramas místicos, relacionados ao universo da iniciação solar terciária, envolvendo o conhecimento e o despertar da clarividência -o símbolo egípcio do Uraeus parece que sintetiza todas estas questões (a Naja inclusive corresponde a uma “serpente alada”, daí o seu culto especial). Nada casualmente, foi neste mesmo contexto que comecei a ter acesso direto às energias dos Elementais e -o que é fundamental no trabalho de magia- a conhecer os seus sons ou vibrações, diretamente dentro da própria Natureza.

Até este momento, eu nunca imaginei que estava com isto em busca da verdadeira iluminação. Meus objetivos eram praticar uma meditação que me libertassem do mal-estar psicológico, da angústia e eventualmente do desejo, através da elevação e do refinamento das minhas energias -como de fato é o propósito da meditação. A única diferença em relação a outras técnicas era a eficácia, capaz de conduzir até uma liberação definitiva, por assim dizer, com práticas capazes de entregar resultados com maior rapidez e eficiência. Mais tarde eu descobriria outro clássico nome oriental da iniciação a que tivera desta forma acesso: Hamsa, o Cisne (mencionado nas Estâncias de Dzyan), como aquele que flutua sobre as águas das ilusões. O símbolo tem grande importância na mitologia hindu, como veículo de Brahma, o Criador, sinalizando o poder que tal iniciação confere sobre o mundo material. 

Esta era uma fase em que eu já começava na verdade a me desvencilhar das comunidades, ao menos em termos de busca de experiência pessoal, pois minha alma amadurecera e eu aspirava por horizontes mais amplos.


VII. A INCANDESCENTE

De modo que a partir deste momento voltei a me aproximar então da cidade e da família, afinal podia contar com um sítio doméstico como refúgio, o que seria importante para os acontecimentos que viriam. Importantes experiências também me aguardavam ali, afinal havíamos colocado bases espirituais sólidas ao longo destes anos.

O grande start para eu começar a avançar novamente de grau foi dado por esta outra pitonisa mencionada, Alice A. Bailey, ao apontar caminhos ainda mais avançados de iniciação. Apesar de já pouco frequentar comunidades, estas seguiam muito importantes em minha vida pelos ensinamentos que ainda contatava. Assim, novamente encontraria uma obra-chave para isto numa comunidade, a de Rodeio Bonito, que foi o livro “Astrologia Esotérica”. 

Durante a minha grande crise de iniciação necessitei buscar então novas energias para conseguir sobreviver, tão graves foram as provações. Após muita pesquisa e experimentos, finalmente consegui acionar as chaves corretas, com a ajuda dos Mentores que estavam a me auxiliar no entendimento das informações herméticas de Bailey e nos meus esforços espirituais.

Parte do material esotérico que eu necessitava -pois constava de obras relativamente raras no país- me era enviado por amigos que residiam na Comunidade de Nazaré (hoje Uniluz, SP) ligada aos meus Mentores, local onde algum tempo antes eu tivera importantes experiências espirituais com a Hierarquia. E certamente o poder da shakty também foi fundamental para eu conseguir perseverar até superar este árduo degrau.

A ascensão de Kundalini -também chamada de quarta iniciação- ocorreu exatamente como nos relatos: duas serpentes de fogo surgindo da base da coluna, entrecruzando-se duas vezes e na terceira se encontrando no coração para gerar um sol de iluminação. Minha energia mudou para sempre… na prática era a colheita áurea de quase dez anos de intensas buscas pelos caminhos da espiritualidade.

Esta poderosa energia trouxe então todas as respostas que eu necessitava no momento, em termos de cura, paz, amor e esperança. Com isto eu incorporava totalmente a energia serpentina e seu simbolismo. E ao sobreviver às provações deste grau também alcançaria despertar novos centros de percepção, relacionados ao acesso direto às energias do Akasha.


VII. Conclusões 

O leitor atento não terá dificuldades de identificar nestes relatos um padrão bastante oriental de buscas espirituais. Pois um dos fatos mais notórios está nas mudanças de fases de vida e seus vínculos com novos ambientes, sobretudo rurais. Na verdade a nossa trajetória de vida seguiu o padrão dos ashramas védicos, as etapas-de-vida do modelo hindu de educação permanente.

Será que as serpentes também são nômades?! Certamente elas são transformistas. Desnecessário é lembrar que o próprio roteiro que o viajante traça no espaço e no tempo, é também como uma serpente simbólica estendida sobre estas dimensões, realizando conexões e fomentando egrégoras.

Com sua versatilidade ambiental e morfológica, a serpente representa um grande símbolo de transformação, ao trocar a casca também periodicamente para possibilitar o seu crescimento. Nisto está o espírito do viajante intrépido e do renunciante audaz, que não se apega ao já conquistado mas investe seus ganhos em novos empreendimentos.

A serpente é um animal que fascina e inspira temor. Surpreende quando um mesmo símbolo é capaz de representar tanto o bem como o mal, a luz e as trevas, mesmo dentro de uma só cultura como foi a egípcia antiga. Por esta razão levamos uma palavra para cada tipo de buscador:

Àqueles que amam a serpente dizemos: vá com calma. 

Àqueles que temem a serpente dizemos: encoraje-se. 

Àqueles que odeiam a serpente dizemos: passe reto.



E você? Também teve experiências interessantes com serpentes? Deixe o seu registro nos Comentários da página, está valendo também sonhos, visões e iniciações.


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 

Imagem: LAWS  no Templo de Kwan Yin, 2008, Alto Paraíso.


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