“Apenas os pequenos segredos precisam ser guardados, os grandes ninguém acredita” (H. Marshall)

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Kalki e a descoberta do Soma

Neste artigo trataremos pois um pouco das experiências do último Avatar com estes recursos e a importância que tiveram também para favorecer as curas do seu espírito preparando o seu grande despertar espiritual no começo da sua vida adulta. Não entraremos aqui em detalhes quanto à natureza específica desta ou daquela substância, reunindo-as meramente sob o epíteto místico, simbólico e tradicional de “Soma”.

Kalki é o último avatar esperado segundo a cosmologia hindu, o regente espiritual da Era de Aquário ou, mais precisamente da nova raça-raiz. É o mesmo Maitreya que virá na sétima sub-raça ou no continente de Pushkara segundo a sábia Helena P. Blavatsky, mas cujos prazos de chegada também já estariam ocorrendo.

1. Os ventos da mudança

A manifestação de um Avatar representa sempre um quadro de grande complexidade, envolvendo necessariamente crises e padecimentos importantes em função do seu trabalho de contribuir de forma significativa na redenção do carma da humanidade e da entrada do ser humano num novo universo de evolução. Com o novo Avatar isto não seria diferente, estando reservado a uma existência sujeita a fortes contrastes e a intensas experiências de vida.

 Assim, em função de problemas já no parto de Kalki, ao jovem fora destinada toda uma infância muitas vezes difícil de insônia à qual ele não tivera qualquer oportunidade de escapar. Era um ônus muito grande para a criança não ser capaz de dormir à noite, permanecendo lendo por horas a fio até o amanhecer quando então a luz do dia como que espantavam as suas sombras internas.

Por alguma razão, a família de Kalki nunca procurou resolver estes problemas do seu primogênito. Os pais de Kalki estavam obstinados por alcançar o sucesso social na vida. Haviam deixaram por isto atrás as suas vocações culturais para dedicar-se à obtenção de recursos econômicos.

Na verdade Kalki nascera numa família bastante sujeita ao conflito, onde os pais eram inclinados à arbitrariedade e os irmãos às intrigas. A escola não oferecia um quadro muito melhor, entre estudos tediosos e a opressão recorrente dos colegas. Deste modo Kalki recordava as suas fugas para a Natureza como momentos memoráveis de idílio. Aprendia assim a valorizar o silêncio e a solidão. Até mesmo os cultos religiosos começaram a ter certo significado para ele.

Contudo já na adolescência as coisas começariam a se modificar por iniciativa do próprio Kalki. Este era um período onde a proximidade com as substâncias entorpecentes se torna bastante natural. Suas dificuldades com os estudos formais, causada pela insônia e outros fatores pessoais, apenas incrementava estas tendências.

As condições pessoais de Kalki -tímido, franzino e revoltado-, faziam com que o jovem procurasse nestas substâncias sobretudo um apaziguador das suas angústias íntimas, entre elas poder simplesmente dormir já que este era um dos seus grandes problemas de toda uma vida. Sem demora Kalki também conhece formas mais poderosas de Soma, aos quais também adapta sem demora extraindo deles os seus melhores ensinamentos na direção da expansão da consciência.

E assim, ao invés de buscar movimentar-se como outros, ele preferia sempre que possível meramente se introspectar, e com isto também podia explorar o verdadeiro propósito interior do Soma. Naturalmente isto não era muito bem compreendido entre os seus parceiros, os quais na verdade sequer conheciam muitos dos seus dilemas íntimos. Mas assim aos poucos Kalki ia adquirindo maestria nestas questões tornando-se um autêntico xamã precoce. Começa inclusive a investigar estes assuntos tornando-se um pesquisador e prenunciando o futuro estudioso que em breve se tornaria também.

Havia alguns gurus famosos pela divulgação de experiências com o Soma que ele e seus parceiros seguiam atentamente. Sonhava viajar para locais mágicos onde viviam sábios renomados e feiticeiros poderosos, porém ele simplesmente não encontrava companhia para estas aventuras do espírito.

A fim de assegurar as melhores condições para as experiências, Kalki buscava realizá-las na casa de campo que sua família possuía. A energia do ambiente também é muito importante para o sucesso das experiências místicas. Kalki pode ver o quanto a sua atividade de xamã havia se aperfeiçoado, numa ocasião que ingerira sozinho o Soma neste ambiente, mas a sua jovem esposa também alcançou acompanhá-lo perfeitamente em sua jornada interior de percepção ampliada de consciência. Compreendeu assim que poderia tentar ajudar as pessoas através da simples indução das consciências, sem que elas precisassem ingerir o Soma, já que a grande maioria tinha grande dificuldade para alcançar os objetivos almejados pela Medicina. Contudo alguns acontecimentos importantes logo iriam abalar as suas ilusões

2. Aprendiz de Feiticeiro

As experiências de Kalki eram sempre muito elevadas, acessando diretamente a atemporalidade e o estado de inocência que o possibilitava olhar o mundo com pleno sentido de novidade sem máculas ou condicionamentos. Raros entre seus colegas chegavam sequer perto disto, e para sua surpresa nem mesmo os mais velhos falavam a respeito. De modo que o aprendizado de Kalki era praticamente de todo próprio e original.

Kalki aprendera que pode haver uma transição dolorosa para alcançar este estado. Nesta primeira fase o paciente deve se entregar completamente à ação da Medicina sem oferecer resistência. Após alguns momentos, podem surgir sentimentos de tristeza e angústia, perda a insegurança. Memórias esquecidas dolorosas podem invadir a consciência. Esta é a fase da peia a ser suportada, necessária para expulsar os traumas psíquicos acumulados. Para o paciente aquilo pode parecer durar uma eternidade, quando na verdade ocupa apenas poucos segundos. Caso esta etapa não seja devidamente atravessada, as experiências tendem a simplesmente não acontecer e a pessoa pode se sujeitar a distorções na sua percepção das coisas enquanto durar o efeito químico da substância.

A etapa seguinte já deve ser caracterizada por uma enorme paz e sentimento de presença, de se estar plenamente no aqui-e-agora. A pessoa sente-se imensamente tranquila e feliz. Sua face pode irradiar inocência e seu coração transbordar amor.

Esta fase de experimentos durou alguns anos na transição entre a adolescência e a fase adulta de Kalki. Ele não tinha instrutores aparentes mas havia avançado muito em seus conhecimentos. Certamente os seus Mestres internos já estavam atuando ali para orientar os seus passos nos caminhos da libertação.

Ignorava ainda de todo os yogas e lhe sobravam razões para não nutrir simpatias pela religião. Com isto havia a tendência a persistir em seus experimentos e até a tentar incrementá-los eventualmente. E com isto ele chegaria numa ocasião bem perto da morte em função de uma experiência sob superdosagem, a famosa overdose enfim.

Kalki estava prestes a entregar-se à morte acreditando estar encontrando uma suave libertação. Bastaria para isto adormecer, porque as suas faculdades psíquicas já estavam parcialmente anuladas. Não conseguir falar por exemplo, algo nele havia se rompido aparentemente, embora ele sequer soubesse disto. Horas antes dispensara os seus colegas para poder se concentrar melhor em suas próprias sensações.

Kalki tendia a acreditar na autonomia da alma ou na liberdade da consciência, não apenas em função daquilo tudo que lia na literatura mística, mas porque desde a infância costumava fazer viagens astrais fora do corpo.

Preparou tudo então cuidadosamente para o seu desenlace final. Para ele era certo que aquela seria a sua última noite neste planeta de dores e sofrimentos. E num último gesto antes de apagar a luz para entregar-se ao seu sono fatal, olhou para um livro de sua predileção sobre tais temas que sempre tinha em sua cabeceira, e uma frase deste livro assomou então à sua mente, a saber:

“A verdadeira conquista do homem de conhecimento, é alcançar a libertação em vida e não através da morte”

Esta frase caiu sobre ele naquele momento como uma bomba. Subitamente intuiu que estava sendo ludibriado por suas próprias sensações. Com efeito os ensinamentos que buscava seguir então advertiam amiúde que muitos feiticeiros inexperientes morriam iludidos pelas falsas promessas das chamadas “plantas-de-poder”. Quiçá os elementais do Soma estavam a lhe enganar a respeito dos seus verdadeiros poderes como uma espécie de vingança, após incontáveis eóns em que os seres humanos tem buscado sujeitar o reino vegetal aos seus próprios caprichos.

A partir disto Kaki desistiu de seu intento de abandonar o corpo para seguir vivendo. O problema era que uma parte dele já estava como que desconectada mesmo, tornando o seu eventual sono. Nem refletiu na possibilidade de meramente esperar passar o efeito do Soma, quiçá isto até nunca mais acontecesse imaginou. Intuiu que a verdadeira chave da sua libertação estaria em conseguir voltar a falar. Confirmou então que aquilo simplesmente não era possível fazer. Restava-lhe meramente insistir e insistir até conseguir. Quando finalmente alcança recuperar a sua voz, aquilo sai com a força e um urro tremendo, tal o esforço que precisou fazer para tal.

Tudo isto representou uma grande lição para Kalki. A partir dali compreendeu que os seus tempos de experimentos com o Soma poderiam estar mesmo chegando ao fim. Estes e outros acontecimentos trágicos envolvendo o submundo em que muitas vezes se buscavam estas experiências no Kali Yuga lhe proporcionaram uma ojeriza mortal e definitiva pelas coisas deste mundo. Decidira querer parar de colocar a sua vida sob riscos desnecessários. Teria que haver outras formas neste mundo para ser livre e feliz. Se isto existia ele estava aberto para conhecer. E as respostas que buscavam não tardariam a lhe aparecer.

Em breve ele receberia o seu grande Chamamento espiritual, e então daria adeus para sempre a este mundo experimental que, não obstante, ainda lhe serviria de referência nos seus primeiros anos de yoga, porque um de seus objetivos era alcançar através das prática de yoga estados de consciência ampliados como aqueles que obtivera através do Soma. Sabia que quando isto fosse possível, tudo aquilo seria seu para sempre e ele estaria de fato livre. Poderia não seria ainda uma verdadeira iluminação, mas pelo menos a clareza, a paz e a força estariam já à sua disposição, sem os riscos que os artifícios da magia podem trazer.

3. Conclusões

A relação das drogas e do sexo com a espiritualidade seguem sempre muito fortes por causa das dimensões idílicas e prazerosas que são capazes de proporcionar. Tudo isto tem sido também alvo de grandes conflitos morais e espirituais. No entanto tudo pode ser harmonizado quando tem-se sabedoria o suficiente para fazê-lo. Passemos então a alguns exemplos práticos, com destaque para o tema das substâncias.

Existe uma dialética mais ou menos natural entre Soma e espiritualidade. O Soma pode ampliar a consciência de início, porém isto deve ser visto como uma simples informação e não pretender seguir repetindo aquilo indefinidamente. A pessoa deve pelo contrário buscar caminhos espirituais verdadeiros para sedimentar aquele estado de consciência elevado. O simples fato dela ter sucesso na experiência do Soma é uma indicação de que tem vocação para cultivar a sua espiritualidade.

Tal coisa deve ser porém realizada sem demora e empregando as melhores técnicas. Aquele que não exercem a sua espiritualidade com pureza e maestria -sem misturar com substâncias- tendem a fatigar-se em seus esforços por não alcançar os resultados almejados e, assim, retornar para a dependência de substâncias. Esta é infelizmente uma situação comum e muito lamentável.

Assim, da mesma forma como os enteógenos foram um elemento importante nas raízes da espiritualidade humana, eles também podem ter eventualmente um papel na preparação das consciências para a verdadeira espiritualidade. O verdadeiro problema aqui está na forma do uso. Para efeitos de segurança podem ser ministradas substância mais suaves de início para testar os efeitos no paciente. E tão importante quanto a sua introdução será o posterior desmame. Nenhuma Medicina merece este nome caso o paciente se torne dela dependente de algum modo, seja psíquica, física ou até espiritual.

Vemos hoje mesmo uma grande profusão do emprego da chamada “Medicina Sagrada tradicional”. Práticas ancestrais têm evadido para os grandes centros onde os novos usuários tem pretendido adotar substâncias de uso ritual tradicional que supostamente não viciam e eventualmente tampouco são proibidas. Dizem que a droga mais perigosa é aquela que parece mais inocente. Pesquisas podem ser manipuladas e pode-se pretender ignorar o vício psicológico.

Enfim nada pode substituir a verdadeira espiritualidade interior, que representa o autêntico auto-empoderamento e liberação, conduzindo por fim à iluminação.  


Veja também

Maitreya e o Xamanismo


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 

Educação e Xamanismo

O xamanismo representa uma forma de cultura, de religião e de espiritualidade que tem acompanhado a humanidade desde épocas imemoriais. Considera-se amiúde porém que o xamanismo tem sido superado pelas religiões mais atuais da humanidade, quiçá desde o período atlante. E neste caso, será que o xamanismo simplesmente desapareceu e perdeu completamente o seu valor?

Dizer que ele desapareceu não é possível, afinal restam ainda muitas sociedades bastante antigas no planeta que preservam razoavelmente as suas tradições. E quanto a ter perdido a sua importância tampouco podemos afirmar realmente, porque os fundamentos do xamanismo são eternos, e neste caso eles apenas têm sido mais limitados em muitos casos a certas etapas da formação humana. Estamos falando pois da formação do ser humano individual, sua infância, adolescência e juventude em especial.

Não obstante, quando dizemos que a infância representa um êmulo do xamanismo, devemos considerar na realidade que o próprio xamanismo é que representa uma forma de infância desenvolvida. Etnólogos estruturalistas como Claude Levi Strauss puderam demonstrar quão profundas são as analogias ou semelhanças entre o pensamento mágico infantil com o das chamadas sociedades originárias.

Podemos dizer que a existência do homem primitivo era como uma infância estendida -inclusive em termos espirituais-, dada a sua contínua preocupação com as questões elementares. Mesmo o xamanismo esteve muito atrelado a uma espiritualidade limitada a planos sutis inferiores e voltada para a luta contra demônios. A mudança apenas aconteceria a partir dos códigos de civilização, que permitiram uma ascensão ao coração e o serviço espiritual às grandes coletividades. Contudo a decadência da civilização também remete a padrões primitivos de sobrevivência, alienação e opressão.

Da mesma forma como a humanidade inaugurou a sua espiritualidade através do xamanismo, o mesmo acontece na existência de muitos iniciados através dos tempos, e com o Novo Buda isto não seria diferente, como o grande e precoce buscador da Verdade que foi, quando necessitou resgatar as raízes da espiritualidade humana a partir das suas mais remotas origens. Tal coisa demanda não apenas um forte envolvimento com a Natureza, como também o conhecimento de recursos mágicos ou místicos que ela pode oportunamente oferecer, além das provações que são caraterísticas das práticas xamânicas. 

Naturalmente esta não é nenhuma generalização; da mesma forma como nos tempos primitivos nem todos foram xamãs, também agora poucos são as pessoas cujas infâncias se prestam da mesma forma a uma autêntica experiência xamânica.

Algumas Escolas de Mistérios afirmam que em cada reencarnação devemos refazer todas as nossas iniciações. Porém em alguns casos é pedido também que o Iniciado recupere até mesmo aquelas pré-iniciações mais primitivas que estão nas bases da espécie humana. De todo modo, tudo isto estaria à disposição de cada ser humano ao qual o carma possa auxiliar a acessar uma evolução maior. 

Contudo, tudo começa realmente na mais tenra infância, senão mesmo no próprio nascimento do Avatar. Ora, o xamanismo é considerado como uma espiritualidade relacionada à infância da humanidade, quando a nossa espécie deve aprender a se relacionar com os Elementos naturais em todos os seus níveis, inclusive em termos religiosos, ainda que a forma xamanista de religião possa ser em muitos casos bastante diferente daquilo que se pratica hoje em dia.

A formação espiritual da criança pode ser também como uma experiência xamanista em função dos desafios que sempre representa para a criança em evolução, e em alguns casos tais desafios podem chegar a assumir proporções realmente assombrosas, trazendo não raro à mente aquele ditado que diz “-Se não me mata, me fortalece”. 

A Formação das Bases

Ainda que os fatos sempre sejam sugestivos a respeito da natureza das coisas, existe sempre uma margem de incertezas ou de variáveis que desafia o entendimento claro das realidades. E é aqui que o conhecimento simbólico e estrutural tradicional pode contribuir muito para reduzir as dúvidas e auxiliar a organizar o mundo como cabe. 

A existência de diferentes estruturas de evolução para as distintas etapas da vida pode causar estranheza, e no entanto este fato seria um simples reflexo da própria natureza das energias com que o ser humano deverá trabalhar cada etapa da sua existência. 

Ocorre que o ser humano é uma espécie com muitas distinções dos demais reinos da Natureza, tanto físicas como psíquica, mentais e espirituais. Os cientistas sempre acharam curiosa –para os nossos presentes propósitos- a longevidade da infância da nossa espécie. Porém isto tem um objetivo muito claro que é justamente a formação de uma mente ou espírito mais complexo que os demais reinos da Natureza.

Na obra “Educação na Nova Era” Alice A. Bailey afirma que no futuro a educação social voltará se identificar a com a iniciação espiritual regular. Ora não existe qualquer motivo de assombro para tal afirmação à luz das práticas das sociedades antigas, das quais a Sociedade Védica (ou Brahmanista) desponta todavia como a mais representativa, pese também as distorções sofridas pelo sistema com o passar dos séculos.

Não obstante, pode ser necessário fazer aqui ainda algumas distinções, posto que o termo “educação” abarca um longo período da existência humana, havendo inclusive modelos sábios de educação vitalícia.

Ora, sempre olhamos com certa desconfiança a aplicação de técnicas espirituais em crianças, apesar de reconhecermos que para alguns efeitos isto até pode ser positivo. Contudo há sempre que estarmos em alerta contra nossas tendências enquanto adultos de tentar impor elementos inadequados às crianças.

A chamada “educação” prima pela completa inconveniência e reflete no mais das vezes apenas as ideologias e as próprias taras dos adultos. Religião, política, ciências e sexualidade são inculcadas em crianças de tenra idade apenas porque os adultos não compreendem a infância e como que querem dela se livrar o quanto antes formatando as pequenas mentes em robôs dos seus próprios desejos e inclinações, forçados que são em assimilar todas estas informações sob pena de tornarem-se párias e enjeitados já em seus próprios lares e depois no conjunto da sociedade.

A rigor consideramos porém –e seguindo certa analogia estruturalista praticada na Antropologia-, entre a evolução cultural com a formação do espírito humano- que a infância está mais próxima da ideias do xamanismo, enquanto que a adolescência possui uma afinidade natural com a própria religião, e a maturidade sim com a espiritualidade iniciática.

Nos relatos xamânicos, é comum o candidato ser colocado em posição desafiadoras para estimular as suas forças latentes. A existência da criança e do jovem são comuns situações que demandam esforços especiais de adaptação, levando-a cedo a se habituar a administrar perdas e ganhos.

Muito daquilo que se passa nos primeiros anos, numa infância e adolescência entremeadas por desafiadora, mas também tal como de auto-superação e com experiências espirituais e religiosas, contribuem para levar a pessoa até um autêntico despertar espiritual, levando-o até situações limites e crises de identidade.

A infância humana é análoga então à evolução humana Elementar iniciada pela Revolução Cognitiva de 50 mil anos atrás, com seus Quatro Ciclos com analogia dos 4 Reinos da Natureza: Mineral, Vegetal, Animal e Humano.

E isto também significa que a própria humanidade ainda vive a sua “infância” espiritual, razão pela qual necessita ser tutelada pelas Hierarquias de Luz. A fase propriamente Elementar estará se encerrando com a Nova Era, fechando assim os 52 mil anos da evolução primária humana, ao passo que à ronda seguinte tocará o “corolário” deste seu amadurecimento e a chegada na sua maioridade espiritual. 

De modo que todo este quadro deve ser organizado em termos de ciclos, visando a evolução contínua e o ritmo natural da evolução, com todas as provações que os processos evolutivos também naturalmente devem trazer.

Para isto empregaremos as estruturas do chamado Triângulo de Pitágoras que contempla em suas três faces um panorama completo da evolução humana (ou pelo menos até uma certa altura avançada da existência), em termos de Cosmologia, Alquimia e Hierofania -a Astrologia, em sua versatilidade, pode ser enquadrada em todas elas. Especialmente em nosso caso da sua face de base quaternária, cuja matemática complexa é sabidamente de 4x4+4=20 unidades.

E como símbolo Elementar, podemos buscar símbolos quaternários conhecidos como o da Roda da Medicina xamânica, comparável num primeiro momento ao chakra-raiz de quatro pétalas da ioga, Muladhara, tal como à sefira básica Malkut da Árvore sefirótica, abaixo. 

Raízes de Três Culturas: Roda da Medicina, Malkuth e Muladhara Chakra

O fato nos remete também à fórmula completa dos Elementos cosmológicos que é circularmente quádruple, ou seja: 4x4. E inserindo a Quintessência como corolário na sequência, teremos os 20 anos desta primeira parte “pré-iniciática” da existência humana –e que é também o ciclo maia katun, análogo ao calendário de 20 dias/signos do “mês” meso-americano.

Contudo, ao invés de subdividir analogamente o período em quatro setores (como nas “semanas” maias de cinco dias ou 4x5), optaremos antes por cinco divisões de quatro anos ou 5x4, visando incluir pois a energia de síntese ou de quintessência como corolário final. 

Tal coisa também pode ser melhor compreendida através do emprego esotérico do Teorema de Pitágoras (no caso, pelo lado reto maior de base “4” do triângulo), tal como demonstramos também na Capítulo “Arqueometria da Evolução divina” da sequencia na presente obra, assim como em “As chaves iniciáticas do Teorema de Pitágoras” na obra “Simbolismo Universal” (da Série “A Doutrina Secreta Revelada”).

Acreditamos que esta repartição possa ser também simbolizada pela cruz hindu de quatro suásticas, abaixo com as etapas correspondentes. 

OS 4+1 CICLOS FUNDAMENTAIS (4X5 ANOS)

I. Primeira Infância: Terra

II. Segunda Infância: Água

III. Primeira Adolescência: Fogo

IV. Segunda Adolescência: Ar

V. A Primeira Maturidade: Éter

Postas estas colocações iniciais, partimos então para analisar sumariamente a natureza de cada um destes cinco ciclos primários da evolução humana.

1. A Primeira Infância: Elemento Terra = 1 a 4 anos de idade

A Primeira Infância é aquela que sucede ao nascimento do ser humano, representando certamente o primeiro “rito-de-passagem” pelo qual atravessa o ser humano. 

Se a terra é como um útero, o próprio útero é também reciprocamente como uma terra. Ela pode sair do útero mas logo recebe um lar que será como uma terra para a semente vicejar física e psiquicamente. A criança aprende com isto a trabalhar com o espaço.

Este é pois o momento para o “aterramento” humano, a fase em que a consciência começa a assimilar as impressões que recebe do mundo. A analogia com o Reino Mineral também se exerce superiormente aqui pelo aprendizado da fala e do manejo da palavra.

Naturalmente a figura da mãe aqui é fundamental, como uma espécie de porto seguro contra as incertezas destas primeiras impressões da consciência. Através dela a criança conhece então o aspecto nutridor da Natureza.

É antigo o debate sobre a verdadeira condição em que o ser humano nasce. Várias teorias buscam dar a sua própria contribuição. Uns creem na bondade inata do ser humano, enquanto para outros ele nasce como uma “folha-em-branco”. 

Rousseau era otimista e Maquiavel era pessimista sobre a natureza humana. Contudo na realidade sequer existe algo que se possa chamar de “natureza humana”. A reposta da folha-em-branco -tal como apregoava Locke- é certamente a mais abrangente de todas as possibilidades.

Existe também a ideia do Pecado Original, relativo às próprias limitações natas do ser humano. Não obstante, o próprio nascimento pode ser um acontecimento capital, e seu simbolismo cósmico é inclusive usado para organizar os temas astrológicos individuais.

Certamente esta também pode ser uma etapa de grandes provações. Nem toda criança tem a sorte de ser bem recebida no mundo, as vezes até por razões aparentemente incidentais como num parto traumático. 

De sorte que não poucas pessoas acumulam traumas da sua primeira infância, afinal a sensibilidade do ser humano nesta fase inicial da vida é realmente sem igual. As pessoas não têm normalmente como aquilatar a natureza praticamente épica das emoções das crianças nesta sua primeira fase da vida...

Mas ao mesmo tempo, é quando a criança começa a se robustecer internamente. E neste aspecto também há vantagens porque, pese a sua fragilidade aparente, ela também é forte para encarar as provas porque não tem nenhuma memória de medo. Mesmo que a dor se repita passo a passo ela também aumenta a sua resistência, como parte mesma do seu aprendizado de vida.

2. Segunda Infância: Elemento Água = 5 a 8 anos de idade

Esta segunda fase da vida está marcada pelo Elemento Água, porque agora a criança está realmente pronta para manifestar emoções. Naturalmente estamos falando de relacionamentos, que decorrem de início com os próprios irmãos, que começam a surgir como pessoas reais nesta fase, o que também costuma ser um outo impacto sobre o conforto físico e emocional da criança. 

Naturalmente a presença paterna surge nesta fase como o outro pilar na vida da criança, à medida e, que começa a precisar dividir a mãe, quando o pai leva a criança para onde ela necessita agora ir, e isto será uma novidade e uma aventura para ela. Desta forma a criança aprende a lidar com a autoridade, que conhecerá também na escola.

A água flui, e a criança se expande discretamente então pelos entornos, realizando atividades sociais com novos amigos e colegas. O jovem pode começar a se envolver artes como cantos e danças, despertando assim para a experiência e estética.

Nesta etapa o esporte e o lazer também entram na vida da criança, aproximando-se da Natureza exterior e exercitando os seus próprios limites. 

A escola tem lugar e com isto uma grande expansão de relacionamentos se potencializa, juntamente com uma multiplicação de atividades, com os decorrentes reflexos emocionais que acarreta, levando-o a aprender a administrar decepções e frustrações.

O resultado disto é a formação e a consciência de uma rotina, ou de um ritmo de vida, permitindo começar com isto a realizar planejamentos. E a criança aprende com isto a trabalhar com o tempo.

3. Primeira Adolescência: Elemento Fogo = 9 a 12 anos de idade

Na sequência tem-se a fase associada ao Reino Animal, quando o adolescente avança nos esportes e na vida social, vindo a alcançar também a sua puberdade.

Aqui a intensidade dos relacionamentos sociais aumenta em todas as direções. É o momento do jovem conhecer o bullyng social, como agente ou como paciente.

Os relacionamentos com o reino animal também podem avançar, seja tendo animais de estimação, seja para fins de lazer ou de trabalho, especialmente entre os jovens do meio rural.

A literatura nativista sul-americana chegou a valorizar estas experiências de juventude. O poeta e escritor romântico argentino Ricardo Guiraldes, filho da aristocracia rural, se interessou pela Teosofia e pelo Orientalismo, antes de concluir a sua obra principal “Don Segundo Sombra" no começo do século XX. 

Esta novela rural com traços autobiográficos trata de um jovem fidalgo que realiza toda uma iniciação na vida gaudéria, servindo ao seu crescimento como homem e como ser humano, enfrentando os desafios da lida rural e aprendendo com os mais experientes. Contudo ao chegar na maioridade termina por abandonar praticamente este mundo para se dedicar aos estudos na cidade. 

Outro tanto acontece com os caçadores. Bem ou mal, são formas de se colocar junto à força dos elementos, no lombo das bestas ou na espreita da caça, no conhecimento das marés ou na travessia dos charcos, servindo daí para reforçar a sua fibra humana. Poucos adultos se sujeitam a este tipo de lida (ou a alguma coisa relacionada a isto) por simples gosto fora da juventude. E se o jovem puder depois refinar toda esta energia com uma educação superior, melhor ainda será... 

De certo modo este processo reproduz aquilo que aconteceu na admirável cultura indiana, quando evoluiu de uma sociedade pastoril para uma cultura mais refinada e espiritual -sem perder todavia as próprias raízes rurais, solidamente fincadas nos seus mitos e cultos tradicionais. 

4. Segunda Adolescência: Elemento Ar = 13 a 16 anos de idade

O final da adolescência decorre então sob as energias do próprio Reino Humano, de modo que o jovem se prepara para se tornar um adulto. 

Esta fase desperta de forma especial a sede pelo conhecimento, a autonomia se afirma e com suas forças aumentando o jovem aspira pelas novidades que possa descobrir no mundo e nele se expandir.

O conhecimento passa a lhe estar agora mais acessível, pode também comparar as coisas e adquire assim sentido crítico. Entra assim num ciclo de contestação, rebeldia e transgressão, visando impressionar seus colegas e para fazer a corte no campo da sexualidade. 

O jovem almeja agora expandir os seus ciclos sociais e de conhecimentos. Os relacionamentos assomam agora ao primeiro plano, e ele passa ademais a conhecer mais sobre a humanidade, suas mazelas e benesses. 

Viagens passam a ser um apelo irresistível e serão sempre bem-vindas, como uma forma de crescimento mental e de expansão da consciência. 

Além disto as experiências místicas espirituais também podem se tornar mais comuns e regulares, sua curiosidade aspira pelo exótico e ele tem abertura para o diferente, daí ser normal o adolescente iniciar-se no mundo das drogas nesta fase e também na sexualidade, especialmente no caso das meninas.

5. A Primeira Maturidade: Elemento Éter = 17 a 20 anos de idade

O começo da vida adulta traz um impacto na vida do ser humano, pois agora ele começa a conhecer verdadeiras responsabilidades, enfrentado os desafios que o destino lhe reserva como tal. 

Não seria exagero dizer que este representa o momento mais crucial da existência humana, na medida em que as decisões a serem tomadas nesta fase da vida poderão determinar o rumo de toda uma existência. Trata-se pois este momento de uma verdadeira “porta cósmica” aberta na vida do ser humano, na qual ele poderá realizar as grandes decisões da sua existência. 

Daí a responsabilidade e as angústias que esta fase costuma acarretar na vida humana, porque não raramente a pessoa ainda não sabe realmente o que almeja fazer na sua vida futura. 

Ao mesmo tempo todas as outras coisas também se precipitam e confundem, na vida social, política, amorosa e espiritual, como um verdadeiro turbilhão de experiências oferecendo e pedindo respostas, como um reflexo natural da energia de quintessência que caracteriza esta fase da vida.

 O adulto noviço sente que a coisas se lhes escapam pelos dedos e que o tempo não basta para alcançar as repostas. Na sua angústia ele aspira inconsciente por luzes que possam lhe orientar. 

Aqui pode entrar novamente então a figura paterna para orientar e aconselhar. Muitos, premidos pela insegurança e pelas incertezas da hora, desejarão ouvir aquilo que os pais têm a lhe dizer, ou atuarão de todo modo em resposta às expectativas paternas.

Outros porém, aspirando por respostas mais profundas, poderá sujeitar-se a crises e experiências diferenciadas e receber até mesmo uma Chamamento espiritual –como uma resposta do Pai celestial neste caso-, coisa nada rara de suceder na existência daqueles que tem vocação espiritual nesta altura da vida, a fim de que possam tomar um curso espiritual fecundo a partir de uma dedicação precoce como pede um trabalho bem-sucedido nesta via de realização.

Conclusões

Neste trabalho podemos verificar o quão a magia pode penetrar na vida humana em tenra idade sob diferentes formas, não raro de maneiras que não consideramos com tais mas que, para um jovem ou uma criança podem ter exatamente este papel, e como o xamanismo em especial acha-se muito relacionado com a formação biológica e natural do ser humano, tendo um papel natural na infância e na adolescência.

As situações probatórias já infância e na adolescência vão naturalmente muito além das estreitas fronteiras do lar, porém este não será tema para ser abordado nesta obra, quiçá apenas as consequências da má educação para o conjunto da sociedade na forma da manipulação social, cultural e econômica.

O contato com a Natureza, os esportes e as experiências com as drogas podem jogar com aspectos bastante tradicionais do xamanismo, ao passo que os desafios da educação e dos relacionamentos também podem conter aspectos importantes de feitiçaria com os quais também aprendemos a cedo lidar. Mesmo afastando-se dela com todas as suas forças, a feitiçaria nas suas diferentes formas de manifestação termina sendo uma companhia constante de todo o iniciado.

É lamentável como a humanidade ainda pouco tem em conta a enorme importância da infância na formação do ser humano, e naturalmente tal coisa pouco ajuda para qualificar a vida precoce das pessoas. A própria intensidade absurda com que uma criança sente as coisas já faz uma enorme diferença, dado o seu elevado grau de espírito de presença nas coisas. 

A ideia é que da mesma forma como o xamanismo contribui na formação da espécie humana, ele também faz o mesmo em relação ao indivíduo. Seria até mesmo possível estabelecer calendários de analogias para isto, comparando os estágios do xamanismo com as etapas de infância e da adolescência em especial, e até mesmo da própria vida adulta num dado sentido.

Da obra "Pedagogia Áurea", Luís A. W. Salvi

Ver também

Arqueometria da Evolução Divina

Maitreya e o Xamanismo


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 



Entendendo o traidor Judas Iscariotes (uma abordagem sociológica)

O complexo fenômeno da traição de Jesus consterna ainda hoje a sociedade mundial, dando margem para todo tipo de teoria conspiratória, como se ainda houvessem coisas mal explicadas. Neste trabalho trataremos de enriquecer a exegese tradicional com novos recursos históricos, sociológicos e ecumênicos.

Trazemos então um assunto bastante rico que envolve sociedade e espiritualidade, fé e traição. Além de se tratar de algo muito universal, porque o complexo tema da traição espiritual está longe de ser exclusivo do cristianismo! Então vamos lá!

Como entender que um personagem como Judas Iscariotes pudesse fazer parte do círculo mais íntimo de discípulos do Cristo? Esta pergunta tem varrido as mentes e os corações de inúmeras pessoas através dos séculos, e agora queremos trazer umas tantas respostas a esta instigante questão.

Muita gente se pergunta porque Jesus, com tanta sabedoria, aceitou ter entre os seus apóstolos um traidor como Judas. E aqui naturalmente há várias questões. Inicialmente, a frase “Santo de casa não faz milagre “, também se refere ao fato de que os poderes dos verdadeiros espiritualistas costumam não se aplicar a eles próprios, por ter uma origem superior e coletiva, voltada para as grandes questões portanto, e não para a resolução de problemas pessoais.

 Além disto, ficou provado que a traição de Judas não diminuiu mas até engrandeceu espiritualmente a figura do Cristo. Então estas seriam algumas explicações apenas espirituais para a tolerância a Judas, embora por si só isto tampouco explique tudo.

Não é estranho pensar que Jesus não tivesse tanto controle sobre o seu próprio grupo como as pessoas gostam de imaginar. Inicialmente pensemos que este grupo mais humilde de apóstolos foi uma espécie de seleção alternativa de seguidores, a crer na metáfora do banquete dos mendigos, já num contexto mais propriamente social e religioso do que de fato místico e espiritualista. 

A princípio os escolhidos deveriam ser, teoricamente falando, pessoas com uma formação intelectual e espiritual mais avançada, digamos assim, inclusive integrantes das tantas seitas judaicas da época, em especial os saduceus e os próprios essênios dos quais Jesus havia feito parte - para isto ouçam também o trabalho que fizemos sobre quando e porque Jesus deixou os essênios. 

Mesmo entre os poderosos fariseus Jesus tinha simpatizantes, como foi o caso de Nicodemus, que hesitava encontrar Jesus abertamente por conhecer a resistência que sua poderosa ordem nutria contra o novo profeta, mas no final cedeu uma sepultura para receber o corpo do Cristo.

No entanto nada disto aconteceu da forma desejada. Parece haver uma tendência de “ninguém ser profeta em sua terra” como disse Jesus. Quase se diria do mesmo ocorrer na sua própria geração. Inúmeros profetas migraram para longe em busca de reconhecimento ou tiverem que esperar muito para serem reconhecidos, às vezes isto acontecendo apenas depois da sua morte.

Não ocorrendo isto, Jesus apelou então para as pessoas mais humildes do povo, aqueles que careciam nitidamente de oportunidades sociais. E assim chegamos na explicação social do drama dos profetas, quando eles precisam muitas vezes desapegar-se completamente das suas próprias raízes sociais e até culturais, para alcançar aqueles que realmente podem e necessitam abraçar o novo; demonstrando que raramente a dimensão espiritual pode ser dissociada da questão social.

Conta a tradição que o Buda estava para desistir de pregar seus conhecimentos, julgando que o seu ensinamento era sutil demais para a humanidade. Foi então o deus Brahma lhe apareceu convencendo-o a persistir. Brahma está relacionado à sociedade, e o Buda começou a investir também na questão social, criticando a rígida estratificação social indiana por exemplo. Ainda assim sua pregação começou no extremo sul do subcontinente, onde achava-se a população mais simples e carente. Outro tanto seria realizado pela liderança jainista contemporânea, Mahavira. 

Remonta a esta época as primeiras repúblicas da Índia, tão antigas e longevas quanto as de Roma e Grécia do mesmo período, e cujos dirigentes eram seguidores destes grandes representantes espirituais. A época era realmente favorável para repúblicas no mundo, por achar-se em ascensão ali uma ampla burguesia liberal, anunciando daí importantes transformações na cultura mundial. 

Jesus não fomentou repúblicas, mas sua obra espiritual estendida ajudou a derrubar impérios. As sociedades criadas em torno da sua herança não permitiram que Roma se reerguesse no Ocidente, migrando então o império no rumo do Oriente greco-bizantino, região que possuía afinal uma tradição monarquista muito antiga e arraigada, e valeria a pena investir naquela vasta área que fora preparada desde séculos antes pelas pregações de São Paulo. 

Tudo para que na Europa pudesse florescer então uma sociedade profundamente religiosa, amparada simplesmente pela economia feudal de subsistência, coisas que a Modernidade busca todavia depreciar como pode, no seu afã de valorizar apenas a cultura liberal e os sistemas produtivos de massa. 

Então, estes contextos de transição denunciam a dificuldade de modificar espiritualmente sistemas cristalizados, demandando uma ação social paralela. Existe uma frase do sábio francês Serge Raynaud de la Ferrière onde ele diz preferir discípulos humildes do que seguidores sábios, porque a sabedoria ele mesmo lhes pode outorgar, mas a modéstia não. Pois com isto se teria um equilíbrio, um corpo completo, e não uma disputa de visões de mundo como costuma acontecer quando indivíduos supostamente sábios se aproximam entre si. 

Em certos contextos filosóficos avançados como o hindu e o grego clássicos, se alcançou organizar grandes debates tendo em vista a busca de verdades maiores, de modo que os perdedores deveriam passar a ser discípulos dos vencedores. Não que se questione a legitimidade de óticas paralelas ou alternativas, contudo também se acredita haver uma certa hierarquia entre elas, em função da sua abrangência por exemplo, tal como no conceito teológico do henoteísmo.

Este é então um recurso de sociedades filosóficas organizadas e responsáveis diante da Verdade espiritual e consciente da própria unidade da sociedade. Tais sociedades são tão civilizadas que os próprios deuses assumem perturbadoras feições humanas...

E com isto mencionamos pois os dois aspectos principais dos dramas das grandes missões, que são o social e o espiritual. Na sequência passaremos a analisar mais detalhadamente o contexto histórico e social de Jesus, demonstrando também que os fatos ocorridos estão muito longe de ser uma particularidade daquela sociedade em especial.

Uma iminência parda entre os apóstolos

Judas Iscariotes poderia muito bem ser uma figura que gozava de certa popularidade no seu meio, sendo visto também por alguns -certamente de forma ingênua e amadora- como alguém que fazia uma “ponte” com os famosos “movimentos sociais”, quando na verdade ele poderia ser considerado quase como um infiltrado, mais ou menos mal-intencionado, no próprio grupo apostólico.

Para certos apóstolos ele seria tido porém como alguém influente nos meios sociais e que também se esforçava pela causa de Jesus, embora com intenções muito particulares para adquirir confiança e proeminência entre os apóstolos, não faltando o desejo de manipular as coisas e o próprio Mestre a todo e a qualquer custo, quer dizer, uma daquelas criaturas obstinadas com nítida vocação de eminência parda...

Infelizmente as pessoas pouco atentam para o momento exato em que Judas decide trair Jesus. Trata-se do momento em que Maria de Betsabá unge Jesus com um óleo fino, e Judas repreende este gesto dizendo: “Porque você aceita usar estes óleos caros? Venda e dê aos pobres”. A isto porém Jesus responde dizendo que “os pobres sempre tereis convosco mas a mim vós nem sempre tereis” (João 12:6-8)

Aqui podemos ter várias camadas de leituras. Deixando de lado a famosa questão do problema que a proximidade das mulheres com Jesus sempre causou entre certas autoridades cristãs, consta que Judas Iscariotes era o tesoureiro do grupo, mas considerado um ladrão no Evangelho de São João, e teria ficado frustrado por não ter mais dinheiro para roubar através da venda do perfume dado por Maria de Betsabéia.

Não obstante enquanto militante político simpatizante da causa dos zelotes e de Barrabás mesmo, Judas estava entre os apóstolos como um infiltrado para tentar induzir Jesus a uma atuação politica decisiva. Contudo neste momento Judas teria ficado perturbado ao ouvir Jesus afirmar que a pobreza dos judeus “explorados por Roma” representava uma condição irremediável. Jesus não apenas sabia que era muito difícil sacudir este jugo dos ombros dos judeus, como também tinha planos próprios para uma nova sociedade na qual a pobreza voluntária também seria uma norma, tal como a partilha comum dos bens.

Desesperado, Judas perdeu a razão. Existem sabidamente aquelas pessoas híbridas ou indefinidas que se pode dizer possuir “dois corações” -não obstante não se tratar aqui de Judas, porque este simplesmente não tinha nenhum coração. 

Ao atuar socialmente, seria inevitável que Jesus se deparasse diretamente com toda as intrigas, distorções e perversidades que costumam povoar o ambiente político e do poder, mesmo que o mestre jamais estivesse em busca disto, como tratou de declarar algumas tantas vezes...

Jesus foi enfático quanto às dificuldades de alguém ser rico e espiritualizado. Talvez apenas não tenha deixado tão claro sobre as dificuldades de alguém ser um revolucionário e um autêntico espiritualista. Contudo, tanto a traição de Judas quanto o episódio político da escolha entre ele e Barrabás, deixam bem clara a profunda incompatibilidade destas visões de mundo.

Existe também a absurda teoria do “Judas bom” inspirada em texto apócrifo dos primeiros séculos, onde se sugere que a traição de Judas envolvia um acordo aberto entre este e Jesus para que a Missão do Cristo se realizasse... 

Ora, os Evangelhos canônicos deixam bem claro e textualmente que a intenção de Judas era forçar Jesus a incentivar uma rebelião popular para se livrar da prisão e da morte, pois Judas tinha claras motivações políticas revolucionárias, seguindo assim a conhecida linha profética judaizante de um Messias basicamente político. O seu posterior suicídio resulta de, pelo contrário, Jesus ter lhe provado completamente que sua própria vitória se daria unicamente através dos planos espirituais.

Quando Jesus descreveu esta traição como um escândalo inevitável, era porque conhecia a natureza humana, tanto a alheia como a própria, porém sem nenhuma espécie de pacto aberto ou de acordo tácito entre ele e Judas; razão pela qual Jesus afirmou também textualmente que “ai daquele através de quem viesse esta traição.”

E acaso este tipo de situação é exclusiva dos Evangelhos? De jeito nenhum. Ainda que situações deste porte sejam difíceis de conhecer, na medida em que biografias avatáricas são raras e geralmente antigas, escritas de forma pouco acessível também. 

As mortes de Osíris e de Odin são coisas complexas e de resultados sempre transcendais, mas pouco se sabe das realidades íntimas ali envolvidas. E porque não falar da mítica situação de Cain e Abel, já que a inveja nunca foi um elemento estranho às grandes traições do mundo...

E se olharmos para a destruição da Ordem dos Templários poderemos encontrar ali um coquetel muito semelhante de cobiça e inveja, embora sem maior transcendência fora das acusações pouco consistentes de adoração a ídolos e simpatia com o inimigo político e religioso. A morte de Gandhi também envolveu um complexo de ressentimentos desta natureza.

O ambiente social de Jesus

Visto todas estas bases, uma coisa importante de entender aqui é o complexo contexto sociológico da traição de Judas. Tudo aquilo foi realmente o resultado de uma cadeia de forças que representa de certa forma uma situação clássica na história humana, envolvendo tendências socioeconômicas em conflito, e também culturais paralelamente. 

Na Palestina de Jesus tinha-se a situação do Império romano e da sublevação de correntes judaicas como a dos zelotes, que era uma fação nacionalista, e cujo fundador também era chamado Judas. 

Em meio a isto havia os que eram mais ou menos cúmplices de Roma como Herodes, junto à linha religiosa mais ortodoxa dos fariseus. E havia também os saduceus que eram mais moderados e também os essênios que estavam mais voltados para uma espiritualidade mais mística.

As forças que se envolveram contra Jesus foram então as mais politizadas e conservadoras, por assim dizer: Herodes, fariseus e zelotes; ou seja: a nobreza, o clero oficial e os revolucionários. Neste contexto Roma julgou que nem precisaria se preocupar, enxergando ali apenas conflitos internos da sociedade judaica.

Segundo relata a Bíblia, a preocupação da casa real judaica com Jesus era antiga, e já motivara o famoso extermínio dos inocentes, do qual Jesus se salvara porque seus pais fugiram para o Egito. Sempre gostamos de observar que quem “alertou os gansos” na ocasião foram os três reis magos descritos no Evangelho da Mateus, que chegaram na região anunciando o nascimento de um novo rei, colocando assim toda a casa de Herodes de sobreaviso. 

Estes magos ou astrólogos se dirigiram de início ao palácio real diretamente, imaginando se tratar de um herdeiro do rei, mas nada encontrando seguiram viagem até que a estrela que os guiava se deteve sobre a humilde manjedoura de Jesus.

De modo que a suspeita de Jesus pretender o trono acompanhou então toda a sua carreira pública até a morte, ficando inscrita até mesmo na sua cruz como “o rei dos Judeus”. Em certa ocasião Jesus até declarou que seu reino não era deste mundo, numa referência direta a este contexto político mais mundano ao qual sempre negou com veemência...

De forma oportunista, porém, muitos quiseram ver nestas palavras alusão à algum mundo outro meramente espiritual, quando na verdade o reino de Deus é plenamente universal, a um só tempo terrestre e celestial, razão pela qual Jesus afirmou que neste reino de amor e partilha onde os corações serão transformados, ninguém já passaria necessidades de qualquer natureza. 

Este reino divino que Jesus anunciava seria pois a perfeição da unidade céu-terra, onde a vida simples e o despojamento permitiria a abundância, tal como foi vivido entre os primeiros cristãos e mais tarde também no decurso da Idade Média de certa forma.

Depois temos os fariseus, comparados por Jesus a “sepulcros caiados”, e que também sentiam a sua posição social ameaçada por esta grande liderança espiritual independente que dava oportunidades aos mais humildes da sociedade. 

E por fim temos os zelotes revolucionários, a quem incomodava a postura não agressiva de Jesus, com seu universalismo que ignorava fronteiras e culturas. Além é claro do próprio despojamento do Cristo e seu discurso espiritualista, prenunciando um mundo de humildade e pacifismo.

Sucede que, no fundo, todo revolucionário é apenas um invejoso da riqueza material alheia, mesmo que travista este sentimento numa suposta causa coletiva. Tal como apregoa a filosofia marxista, as classes econômicas opostas interagem “dialeticamente” ou numa relação de mútua dependência, mais ou como numa situação viciosa, no caso, de teor social e econômico.

Porém Jesus era uma figura popular, e cada vez mais as atenções recaíam sobre ele. Da mesma forma que Roma estava bastante tranquila, imaginando que “o problema” se resolveria entre os próprios judeus, os fariseus e mesmo Herodes não desejavam atacar diretamente o manso profeta para não atrair sobre si a ira do povo. E nem mesmo os zelotes queriam dar pretextos para se fragilizar aos olhos da população. 

Estes zelotes eram porém mais próximos dos apóstolos por razões econômicas, quase todos eram mais ou menos pobres, razão pela qual havia simpatizantes de ambas as correntes nos dois lados, de modo a ser mais fácil para aqueles radicais manter um espião infiltrado no grupo cristão.

Por esta razão, os poderosos sabiam que, mais cedo ou mais tarde, a ignorância característica das forças revolucionárias trataria de fazer o trabalho sujo que todas aquelas correntes conflituosas no fundo almejavam. Bastava para isto haver um pretexto, uma oportunidade, que veio inicialmente através da traição de Judas, e depois com o dia do perdão de um condenado a morte, beneficiando o líder zelote Barrabás, aclamado por uma turba programada pelo partido para este fim, condenando a morte então o próprio Cristo...

A título de conclusão, observemos então algumas das consequências sociais da condenação de Jesus sobre aquela sociedade judaica. O nome do traidor Judas remete igualmente aos judeus, o povo de Judá ou da Judéia. 

Acaso a sentença de Jesus, “ai daquele pelo qual vem a traição”, poderia ser estendida a todo o povo onde ele nasceu, este povo que jamais aceitou a sua missão até os nossos dias? Tal coisa não seria estranha de imaginar, afinal os antigos profetas hebreus sempre alertaram o seu povo que sua liberdade dependia inteiramente da fidelidade ao seu próprio Deus...

Busquemos então seguir uma certa linha de tempo em torno dos fatos da época. Barrabás foi solto e Cristo foi morto. A seita zelote teve seu líder de volta, e a seita cristã teve o seu líder sacrificado. Embora Jesus tenha ressuscitado, ele não retornou plenamente à missão pública. O cristianismo não terminou com Jesus, porém deixou de expandir-se entre os judeus. E com isto quem se fortaleceu ali foram os próprios revolucionários.

Durante a sua estada em Jerusalém, Jesus profetizou a destruição do templo. E com efeito após sua morte o templo foi destruído pela última vez, assim como toda a cidade de Jerusalém, após fortes ondas de rebeldias contra Roma, e seu povo disperso pelo mundo. 

Quer dizer: Israel simplesmente desapareceu do mapa! Cumpriu-se assim cabalmente a sentença de Jesus pela qual “toda nação dividida sobre si perecerá”. Mesmo hoje este quadro social e cultural sobrevive e se reproduz, aqui e alhures, jogando as sociedades mergulhadas em dualismos fratricidas em situações instáveis e ameaçadoras. 

De modo que a verdadeira mensagem de Jesus continua vivíssima, servindo de recado sobretudo para as nações complexas e em formação. Pois onde houver conflito social tudo isto estará latente, e naquelas nações assinaladas por Deus então ele poderá se repetir com muita plenitude... 

Vemos daí como tantos insistem hoje em negar a historicidade de Jesus e até refutar a “necessidade” de novos mensageiros com missões semelhantes. São pois como falsos sábios que renegam os verdadeiros profetas, e falsos instrutores que recusam os mestres reais, apenas para criar confusão e atrair para si as atenções, exatamente como a serpente tentadora que levou a humanidade à expulsão do paraíso.

Novamente a revelação do dharma encontrará resistências de toda ordem e irá se deparar com pessoas infiltradas nos grupos proféticos ou de nova era, os quais por estarem ainda impregnados pelo hibridismo cultural não tem maturidade suficiente para produzir linhas filosóficas puras e nem para depurar os seus próprios quadros, num círculo vicioso complexo e sacrificado.

São coisas anunciadas enfim nas próprias profecias do Oriente, como aquelas que falam da chegada do Buda Maitreya e do Kalki Avatar, os quais serão negados por sua própria geração, até que este mundo sofrido e devastado desperte para a necessidade de uma grande luz, assim como da unidade e da renovação que eles trazem.

E com isto encerramos esta abordagem. Tudo o que fizemos foi aprofundar aquilo que a própria Bíblia coloca, enriquecido pela observação da natureza humana, das complexidades sociais e do multiculturalismo. 


As Três Faces do Mal

Reunimos neste trabalho-denúncia uma síntese reveladora da manifestação das forças trevosas no planeta, vistas em termos de tríades e aproveitando para isto classificações presentes em várias tradições esotéricas, religiosas e espirituais.

Toda luz projeta a sua sombra, e todo bem pode despertar algum mal. Daí a profusão de doutrinas tradicionais sobre as forças das trevas, ainda que também possamos dizer que a organização do Mal tem sido consequência da própria evolução espiritual da humanidade, e por várias razões. 

Quanto mais sofisticada fica uma evolução, maiores serão os refugos naturais dos seus processos de formação e, da mesma forma, mais camadas evolutivas vão ficando para trás. A decadência cultural e o ostracismo das formas sagradas contribui para este quadro.

A Demonologia é uma metaciência com muitas ramificações e classificações. Neste trabalho trataremos contudo de resumir e diferenciar meramente as expressões mais importantes do Mal, como uma espécie de reflexo das energias primordiais da Criação ou da Natureza mesma, e com certo respaldo ecumênico ou multicultural. 

E para orientar as nossas investigações, trataremos de buscar as definições do mal e do negativo em algumas tradições, especialmente naquilo que elas reportam em termos mais ou menos plurais.

De outro modo tal coisa poderia nos levar muito longe, se fossemos realmente seguir as classificações. Existem os demônios dos Sete Pecados Capitais e certamente muitas outras listagens, até porque as sistematizações do sagrado e do angelical também podem resultar da mesma forma complexas.

Por isto nos ateremos aqui apenas ao principal, em torno de nomes bem conhecidos e de tradições renomadas, a fim de obtermos um conteúdo didático e atraente, e afastando-nos pela mesma razão do simplismo e das generalizações comuns aos leigos. 

Lembrando também que o Hinduísmo fala de três formas principais de maya ou de ilusão, relacionados às esferas da matéria, da alma e do espírito. 

Tal como podemos evocar da mesma forma a triple divisão realizada por Alice A. Bailey entre maya, fascinação e ilusão no livro “Miragem – um Problema Mundial”, atingindo objetivamente aqueles planos mais densos que são o físico, o emocional e o mental; os únicos afinal que o Mal pôde realmente alcançar. 

É importante notar então que a evolução iniciática da humanidade tem sido objeto nestes séculos de um Plano da Hierarquia espiritual, especialmente em favor destes que são chamados “Os Três Planos de Esforços Humanos” 

E neste caso, as forças trevosas em questão também tem suscitado “naturalmente” uma oposição sistemática a este Plano espiritual, como poderemos também entrever então. 

Dentre as tradições que melhor nos mostram as diferentes faces do Mal e sem muitos relativismos, podemos destacar o Budismo e o Cristianismo. 

O budismo nos fala de modo recorrente dos “três venenos da mente”, nas formas da ignorância, da raiva e do apego. E na verdade também podemos associar estes venenos aos três gunas ou tendências hindus da mente ou da matéria na forma de raja, tamas e satwa. A partir disto é possível encontrar bases para uma imensa sorte de males comuns na humanidade. 

Já o Cristianismo é herdeiro da mesma forma de certa tradição demonológica que encontra talvez no livro profético e sapiencial do Apocalipse de São João o seu ponto mais alto, ao mencionar aquela Trinca Demoníaca formada pela Besta, pelo Falso Profeta e pelo próprio Anti Cristo. 

Na realidade algumas destas tradições ostenta ainda outras classificações sob o desencadeamento de arcos de negatividades ou círculos viciosos. O Budismo mostra por exemplo a sua “Roda da Vida” com vários círculos que se desdobram em torno dos três venenos, comportando os doze processos de encadeamentos da mente e também os seis reinos que podem encadear a consciência, entre eles o próprio reino dos deuses. 

No Apocalipse temos da mesma forma de início os Pecados da Sete Igrejas e a certa altura os Quatro cavaleiros Apocalipse representando a Peste, a Guerra, a Fome e a Morte. A trinca central citada da Besta, do Falso Profeta e do Anti Cristo surgem aos poucos e vão sendo da mesma forma por partes vencidos. 

Para organizar o nosso próprio léxico, investigaremos pois os significados de alguns dentre os principais nomes do demônio. Em última análise, a etimologia selecionada servirá aos propósitos em vista.

A própria palavra demônio vem do grego daimon onde sabemos possuir uma aplicação muito ampla e vaga, e sem conotações negativas necessárias. Passemos então para as restantes.

Satan significa “adversário” no hebraico; Diabo vem do grego diabolos e remete o “divisionismo”, e Lúcifer vem do latim e significa “portador da luz” -no caso, já como anjo caído. E uma forma muito precisa de caracterizar estas tendências seria pois como violência, negligência e lascívia, conforme comentaremos nas análises a seguir.

E com isto teremos pois três formas mais características da manifestação do Mal, configurando pois os contornos tenebrosos da Loja Negra que representa o Templo das Trevas do planeta, tendo no seu átrio exterior toda uma zona cinza formada pelas legiões de pessoas mal encaminhadas, passando pelos indivíduos mais ou menos habilidosas em formas de fraude, desvios e assédio moral.

E encabeçado por fim pelo próprio Mal Organizado como forças especializadas nas mais rebuscadas artes da opressão, da manipulação e da simulação, de forma planejada, intencional e consciente, movidos invariavelmente pelos mais profundos e irrecuperáveis desvios de caráter, infelizmente muito comuns nesta humanidade ainda em evolução.

E tal como no caso das tríades divinas, as tríades demoníacas também atuam conjuntamente, mesmo sem demostrar nenhum grau de vínculo objetivo entre si, já que boa parte das suas artes se exercem sob formas ocultas e insuspeitas de cumplicidade. 

Afinal como se diz o diabo é o pai da mentira e um artista da dissimulação. E nesta colaboração maléfica, existem esforços secretos e concentrados para promover a alienação, a ignorância e o medo. 

Lembremos que, nas filosofias originais, as instituições sociais estavam unificadas, quer dizer, eram holísticas ou universais. O assédio por exemplo, como uma modalidade sutil de opressão, pode acontecer em qualquer destas formas do Mal.

Nas análises a seguir dividiremos pois as partes por linhas de atividades meramente para fins didáticos, conectando ademais aos venenos budistas da mente e aos gunas hindus, tal como à contraposição da Trindade divina e à Trimurti hindu.

O Satanismo

Comecemos pois pelo veneno da raiva, que podemos relacionar à energia impulsiva do guna rajas no hinduísmo. Aqui temos pois uma energia de poder que podemos relacionar à expressão demoníaca de Satanás, enquanto adversário direto de Deus.

Por isto se trata da Besta perseguidora do Apocalipse, contrapondo-se mais objetivamente ao Deus-Pai como força criadora original, tal como ao deus hindu Brahma. Assim como todas aquelas forças malignas persecutórias que empregam os artifícios das artes negras da feitiçaria.

No plano social esta tendência é natural dos políticos poderosos e dos guerreiros, dos governos opressores e das aristocracias decaídas. É a reunião das forças de Roma e de Israel que prenderam, torturaram e executaram Jesus.

Historicamente tem-se muitas ocasiões em que a religião e o misticismo deram apoio impróprio ao poder temporal, na indevida subserviência do espiritual ao temporal –uma espécie de anti-sinarquia, portanto, dando lugar a Estados terroristas como foi o asteca e a processos inquisitoriais como os medievais.

Esta tendência está marcada pois pela violência, e é quando vocações de liderança se convertem pois em tiranas e opressivas, pela falta de sabedoria quanto ao uso da própria energia.

Para desabrochar uma grande vocação satânica, pode bastar a algum militar em evidência com formação religiosa, padecer uma frustração séria das suas próprias expectativas ideológicas, levando-o a forçar uma situação política e social opressiva.

Nas classificações de Alice A. Bailey, este aspecto mais burdo do Mal teria relação com o grau do Aspirante espiritual, ou aquele que se encontra no Sendeiro do Noviciado. O seu próprio desafio se resume então por Maya, relacionada ao Reino Mineral, demandando buscar uma coordenação física por meio da concentração de energias.

O Diabolismo

Em seguida teremos o veneno da ignorância, que podemos relacionar à energia de inércia do guna tamas no hinduísmo. Neste caso teremos uma energia de dissimulação e de divisão, tal como se apresenta no próprio nome do Diabo, também como o grande manipulador das coisas. 

O Diabo também é denunciado no Apocalipse de São João como um “acusador”, uma espécie de advogado do Mal portanto, sempre a postos para julgar e caluniar, buscando estratagemas políticos e jurídicos para denegrir a imagem dos filhos de Deus. 

Por isto se trata do Anti Cristo do Apocalipse, aquele se que opõe ao Cristo, e se contrapõe especialmente ao Deus-Espírito como força transformadora, tal como ao deus hindu Shiva. Aqui adentram pois aquelas correntes místicas e religiosas interessadas na ação política ao modo das ordens secretas e das linhas secularistas.

O manipulador é ademais aquela eminência parda que jaz muitas vezes sob as figuras de autoridade, buscando controlar esta autoridade através da adulação e mediante serviços prestados, buscando se tornar cada vez mais uma peça chave de um esquema para oportunamente controlar a tudo. 

Não raro este é um perfil de sociopata, que vê o grupo como um tabuleiro de xadrez para jogar friamente e sem escrúpulos em prol dos seus próprios interesses.

Esta tendência também está marcada pela negligência, quando vocações de conhecimento e Espiritualidade sucumbem à vaidade, ao fanatismo e à ignorância; então aqui temos os drogados endêmicos de toda a Natureza, que são como desleixados quanto ao próprio destino, afetando com seu comportamento a própria coletividade e mesmo o planeta do qual participam

Para desabrochar uma grande vocação diabólica, pode bastar a algum intelectual em evidência com formação mística, uma frustração das suas próprias expectativas quanto aos destinos da nação, levando-o a simular uma posição exaltada em termos de liderança filosófica ou política, para então projetar o seu jogo destrutivo no mundo.

No plano social esta tendência é natural dos revolucionários e dos anarquistas, dos liberais e dos materialistas. Não casualmente, os revolucionários têm afeição pela ideia da “dialética histórica”, afim do divisionismo diabólico.

Tais correntes políticas são com efeito muito marcadas pela astúcia e pela manipulação das consciências, colocando literalmente a seu serviço legiões de criaturas desesperadas e desorientadas mundo afora.

É então o traidor Judas aliado ao revolucionário Barrabás e que trai o Mestre com um beijo, tal como são as próprias forças organizadas de Barrabás que depois condenam Jesus à morte. Deixaremos um vídeo sobre a traição de Judas no contexto geral da sociedade judaica da época aqui nos créditos da plataforma.

Sob as ações dos fanáticos politizados, descaminhos são então forçados à exaustão, resultando na extinção de sociedades e civilizações, tal como no caso dos próprios judeus tantas vezes sujeitos ao êxodo e à deportação. 

Nas classificações de Alice A. Bailey, este aspecto mais mediano do Mal teria relação com o grau do Discípulo espiritual, ou aquele que se encontra no Sendeiro do Discipulado. O seu próprio desafio se resume então pelo Espelhismo, relacionada ao Reino Vegetal, demandando buscar uma reorientação astral por meio da meditação espiritual.

O Luciferismo

Por fim temos o veneno do apego, que podemos relacionar à energia harmônica do guna satwa no hinduísmo. Corresponde então ao demônio Lúcifer, naturalmente vinculado à espiritualidade, como simulador ou falsificador das coisas imateriais; posto que o apego induz comumente também à inveja. Pois com certeza não pode existir maior invejoso do que o próprio usurpador.

Como farsante Lúcifer representa a prática do engodo na espiritualidade. E por isto se trata do Falso Profeta do Apocalipse. Esta corrente se contrapõe pois ao Deus-Filho como força de conservação, tal como ao deus hindu Vishnu.

E neste sentido, seria debalde as tentativas de aproximar Lúcifer de Prometeu, porque este último sacrifica-se pela humanidade, ao passo que o anterior sacrifica a humanidade em si às suas próprias ambições pessoais.

No plano social tal tendência é natural daí dos místicos e dos religiosos. São os Fariseus como sepulcros caiados, os Saduceus como falsos doutrinadores e por fim as forças do Sinédrio que tramaram por detrás das cortinas com todas as outras forças sociais para prender e para matar Jesus. Aqui surge pois as forças da ilusão e do auto-engano, não raro acobertadas por convenções ou pseudo-tradições parasitárias e vazias. 

Esta tendência também está marcada pela lascívia, quando vocações ao amor e à fraternidade sucumbem ao desejo passageiro e egoísta. Aqui entram também aqueles médicos e curadores que abusam da boa fé e dos próprios corpos dos seus pacientes.

É importante compreender que os discípulos e mesmo certos iniciados não são indivíduos isentos de erros. Pelo fato de terem experiência e força interior, assim como erudição e disciplina, tal como intuição e inteligência desenvolvidas, adquirem capacidade de manifestar carisma e segurança naquilo que realizam, impactando deste modo os leigos e também os aspirantes, de sorte a terem facilidade de disseminar as suas crenças no mundo. Não significa portanto que eles sejam grandes portas-vozes de Verdades, com efeito acontece não raramente de alguns deles se tornarem até mesmo mensageiros da Loja Negra, atuando na prática contra muitos dos grandes princípios da luz, peses as aparências enganosas, uma vez que sabem perfeitamente dissimular as suas intenções. O núcleo do ego não costumava estar removido neste grau, especialmente dentro da mística híbrida que domina a espiritualidade moderna, num mundo onde o incentivo ao ganho pessoal é sempre muito grande, dominando pelo contrário formas de anarquismo e fórmulas de auto-ajuda a título de uma mística de consumo rápido e lucrativo. Em última análise é comum o transplante acrítico de doutrinas ou a tentativa de adaptação a contextos impróprios.

Para desabrochar uma grande vocação luciférica, pode bastar a algum espiritualista em evidência com formação esotérica, uma frustração das expectativas pessoais quanto a vir ser aclamado ou reconhecido como mestre ou mensageiro, levando-o a simular uma posição exaltada em termos de Hierarquia espiritual; independente da gravidade que possa decorrer da sua traição perante as coisas espirituais e planetárias.

Aqui entra pois todas aquelas correntes místicas carismáticas e de tendências fanatizantes, levando à criação de seitas de pseudo iniciados, característicos dos inúmeros projetos sociais elitistas de Lúcifer, assinalados pela sua gritante falta de real universalismo

Representa ademais terreno fértil para a proliferação do “materialismo espiritual” denunciado pelo lama tibetano Chogyan Trungpa, resultando comumente em fraudes e em desilusões, tal como seguramente em muito tempo perdido, inclusive muitas vidas ceifadas sob os descaminhos assim apresentados.

Basicamente aquilo que temos aqui é a imposição do amadorismo sobre as autenticas vocações, quer dizer: uma usurpação de funções. Um dos mais nefastos resultados desta hipocrisia é o descrédito social e cultural das forças espirituais, levando a humanidade a cair no engodo das revoluções e das ideologias liberais ou materialistas. 

Nas classificações de Alice A. Bailey, este aspecto mais sutil do Mal teria relação com o grau do Iniciado espiritual, ou aquele que se encontra no Sendeiro da Iniciação. O seu próprio desafio se resume então pela Ilusão, relacionada ao Reino Animal, demandando buscar um redirecionamento mental por meio da contemplação espiritual.

E nisto resumimos pois as nossas três classificações principais do Mal, ou seja: como o mal opressor, o mal como manipulador e o mal como simulador.

A construção da imagem do Mal

E já com relação à própria imagem do Mal, que é sempre mais ou menos padronizada, é comum se falar de chifres e rabos, que todavia são coisa com simbolismo próprio. A imagem comum tem relação com o signo de Capricórnio, regido por Saturno, um planeta associado à morte, inclusive a morte simbólica ou iniciática e, como tal, objeto de culto entre os Templário na forma de Baphomet. 

Tal como remete ao deus Pan, relacionado à Natureza, uma realidade em si mesma um tanto desprezada pela mentalidade religiosa medieval, mas sobretudo para combater a grande popularidade que esta divindade havia alcançado então. 

Na verdade, traços deste simbolismo remonta já à Angra Mainyu ou Arimã, a representação do Mal presente na religião de Zoroastro, e que seria a primeira grande tradição espiritual com nítidos traços de dualismo.

Tem sido demonstrado pois que a imagem do diabo foi construída aos poucos, e em boa parte ela é até bastante recente. Até o começo da Idade Média ainda se mostrava Satanás como um anjo, porém desgarrado. Neste sentido, tem chamado a atenção um mosaico do século VI existente na Basílica de Santo Apolinário Novo, em Ravena, Itália, onde é representado o "Julgamento das Nações", do Evangelho de Mateus (25:31–46), abaixo, mostrando Jesus entre dois anjos, um com ovelhas e outro com bodes –o bode que tantas vezes tem sido associado ao diabo...

A cor vermelha paixão do bom anjo é aquele da paixão, do sangue do sacrifício simbólico. E a cor azul do mau anjo é a na nobreza e a do poder material. Mais tarde o diabo incorporará a cor vermelha em função do próprio fogo do inferno...

Ora, quem não sabe que a religião também é ambiente onde floresce o mal, e que é um dos locais onde mais existem psicopatas, até porque ali há sempre boas oportunidades para ambiciosos, arrivistas e infiltrados como um Judas Iscariotes. E quem não conhece casos de falsos mestres que se apresentaram a vida toda como castos e devotos, para depois serem desmascarados desta ou daquela forma? Mesmo pessoas que servem às Hierarquias estão sujeitas a quedas diante de provações maiores. Afinal as próprias Hierarquias não costumam ter muitas opções mesmo para trabalhar com a humanidade.

Satanás é um grande oportunista que se vale das ilusões e da falsa espiritualidade humana para angariar fama e poder. Ele é chamado de “adversário” porque é revoltado por não ser o escolhido de Deus, então procura arrebanhar o máximo de almas que pode para levar para os infernos da ilusão e a falsidade, tal como das espiritualidades inócuas e permissivas que o vulgo tanto aprecia...

Ao fim e ao cabo, a verdadeira separação do joio e do trigo nem seria tanto entre os religiosos e os materialistas, e sim entre os seguidores do Deus vivo e os adeptos desta espiritualidade corrompida, que sempre serão naturalmente a maioria. Tem-se daí imagens como a da Batalha de Kurukshetra onde ambos os lados tinham grandes virtudes, mas apenas um servia realmente a Deus como força criadora e de renovação. Daí Krishna fala em lutas contra os próprios parentes, ou Jesus falar em separação de famílias, tratando de imagens de quem está muito próximo de nós.

Conclusões

Chegamos assim ao final deste trabalho sobre a tripla natureza do Mal. Talvez o grande valor destes estudos aprofundados -e também especificados- sobre a natureza do Mal, é dar a conhecer melhor as verdadeiras complexidades do caminho espiritual, mesmo no plano social, especialmente em contextos turbulentos de transição de tempos e de sociedades em formação.

O ser humano não gosta de pensar que ele pode ser apenas um joguete nas mãos de forças superiores, sobretudo das negativas neste caso, e esta é uma armadilha na qual caem especialmente aqueles que desenvolvem um pensamento cético sobre as coisas espirituais, escudados por um verniz frágil de idealismo.

Muitos exemplos poderiam ser arrolados no país e no mundo, em termos de fraudes, manipulações e usurpações -tais como os oferecidos mais acima-, passando comumente pelos caminhos da mística, da religião ou da espiritualidade, e que podem se tornar instrumentos para um carma negativo individual e até coletivo.

Cabe então deixar aqui uma mensagem positiva -ou pelo menos construtiva- a respeito deste grave problema do Mal planetário.

Em primeiro lugar existe com efeito uma proteção contra o Mal, tema relacionado por sua vez àquela angeologia que está a serviço das forças do Bem. Não obstante, a economia espiritual do mundo reflete a sua economia material, seguindo sempre a Lei do Menor Esforço. 

A proteção espiritual é um investimento realizado pelas forças espirituais enquanto a pessoa realmente necessita. Depois que ela se torna adulta o seu livre arbítrio como que amadurece, e então cada vez mais ela precisa passar a dar a sua própria contribuição, inicialmente tornando-se espiritualmente independente, e logo auxiliando as outras pessoas a se libertar da mesma forma. Até chegar aquele ponto em que o iniciado pode dispensar praticamente toda a proteção espiritual para si mesmo, e até começar a oferecer a outros.

As verdadeiras cadeias da humanidade são morais, porque é ali que nascem todas as outras prisões. Contudo, a síntese da salvação está nos Mistérios, na busca da auto-realização séria e profissionalmente empreendida.

A Tradição Sapiencial ensina que esta proteção também pode se estender às Nações, especialmente aquelas assinaladas pelo Destino à condição de raças eleitas ou luminares. 

Neste caso toca a analogia da procura pelo Polo Espiritual do Mundo, a fim de obter as verdadeiras orientações, sem as quais a própria senda espiritual poderá permanecer truncada -da mesma forma que todos os outros caminhos necessários para a humanidade, mesmo os sociais, já que na prática as coisas nem diferem tanto assim.

De outra forma, o Mal também pode se abater sobre tais nações marcadas pelo carma sagrado, caso não atendam as demandas do seu próprio Destino!

O caminho da luz não é e nunca foi realmente uma jornada sem roteiros. Ao menos as coisas mais importantes sempre serão assinaladas.


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 

Imagem: LAWS  no Templo de Kwan Yin, 2008, Alto Paraíso.