Neste artigo trataremos pois um pouco das
experiências do último Avatar com estes recursos e a importância que tiveram também
para favorecer as curas do seu espírito preparando o seu grande despertar espiritual
no começo da sua vida adulta. Não entraremos aqui em detalhes quanto à natureza
específica desta ou daquela substância, reunindo-as meramente sob o epíteto místico,
simbólico e tradicional de “Soma”.
Kalki é o último avatar esperado segundo a cosmologia hindu, o regente espiritual da Era de Aquário ou, mais precisamente da nova raça-raiz. É o mesmo Maitreya que virá na sétima sub-raça ou no continente de Pushkara segundo a sábia Helena P. Blavatsky, mas cujos prazos de chegada também já estariam ocorrendo.
1. Os ventos da mudança
A manifestação de um Avatar representa sempre um
quadro de grande complexidade, envolvendo necessariamente crises e padecimentos
importantes em função do seu trabalho de contribuir de forma significativa na
redenção do carma da humanidade e da entrada do ser humano num novo universo de
evolução. Com o novo Avatar isto não seria diferente, estando reservado a uma existência
sujeita a fortes contrastes e a intensas experiências de vida.
Assim, em função de problemas já no parto de Kalki,
ao jovem fora destinada toda uma infância muitas vezes difícil de insônia à
qual ele não tivera qualquer oportunidade de escapar. Era um ônus muito grande
para a criança não ser capaz de dormir à noite, permanecendo lendo por horas a
fio até o amanhecer quando então a luz do dia como que espantavam as suas
sombras internas.
Por alguma razão, a família de Kalki
nunca procurou resolver estes problemas do seu primogênito. Os pais de Kalki estavam obstinados por alcançar o sucesso
social na vida. Haviam deixaram por isto atrás as suas vocações culturais para
dedicar-se à obtenção de recursos econômicos.
Na
verdade Kalki nascera numa família bastante sujeita ao conflito, onde os pais
eram inclinados à arbitrariedade e os irmãos às intrigas. A escola não oferecia
um quadro muito melhor, entre estudos tediosos e a opressão recorrente dos colegas.
Deste modo Kalki recordava as suas fugas para a Natureza como momentos memoráveis
de idílio. Aprendia assim a valorizar o silêncio e a solidão. Até mesmo os
cultos religiosos começaram a ter certo significado para ele.
Contudo já na adolescência as coisas
começariam a se modificar por iniciativa do próprio Kalki. Este era um período
onde a proximidade com as substâncias entorpecentes se torna bastante natural.
Suas dificuldades com os estudos formais, causada pela insônia e outros fatores
pessoais, apenas incrementava estas tendências.
As
condições pessoais de Kalki -tímido, franzino e revoltado-, faziam com que o
jovem procurasse nestas substâncias sobretudo um apaziguador das suas angústias
íntimas, entre elas poder simplesmente dormir já que este era um dos seus
grandes problemas de toda uma vida. Sem demora Kalki também conhece
formas mais poderosas de Soma, aos quais também adapta sem demora
extraindo deles os seus melhores ensinamentos na direção da expansão da
consciência.
E assim,
ao invés de buscar movimentar-se como outros, ele preferia sempre que possível
meramente se introspectar, e com isto também podia explorar o verdadeiro propósito
interior do Soma. Naturalmente isto não era muito bem compreendido entre
os seus parceiros, os quais na verdade sequer conheciam muitos dos seus dilemas
íntimos. Mas assim aos poucos Kalki ia adquirindo maestria nestas questões
tornando-se um autêntico xamã precoce. Começa inclusive a investigar estes assuntos
tornando-se um pesquisador e prenunciando o futuro estudioso que em breve se tornaria
também.
Havia alguns gurus famosos pela divulgação
de experiências com o Soma que ele e seus parceiros seguiam atentamente.
Sonhava viajar para locais mágicos onde viviam sábios renomados e feiticeiros
poderosos, porém ele simplesmente não encontrava companhia para estas aventuras
do espírito.
A fim de assegurar as melhores condições para as experiências, Kalki buscava realizá-las na casa de campo que sua família possuía. A energia do ambiente também é muito importante para o sucesso das experiências místicas. Kalki pode ver o quanto a sua atividade de xamã havia se aperfeiçoado, numa ocasião que ingerira sozinho o Soma neste ambiente, mas a sua jovem esposa também alcançou acompanhá-lo perfeitamente em sua jornada interior de percepção ampliada de consciência. Compreendeu assim que poderia tentar ajudar as pessoas através da simples indução das consciências, sem que elas precisassem ingerir o Soma, já que a grande maioria tinha grande dificuldade para alcançar os objetivos almejados pela Medicina. Contudo alguns acontecimentos importantes logo iriam abalar as suas ilusões
2. Aprendiz de Feiticeiro
As experiências de Kalki eram sempre muito elevadas,
acessando diretamente a atemporalidade e o estado de inocência que o
possibilitava olhar o mundo com pleno sentido de novidade sem máculas ou condicionamentos.
Raros entre seus colegas chegavam sequer perto disto, e para sua surpresa nem mesmo
os mais velhos falavam a respeito. De modo que o aprendizado de Kalki era
praticamente de todo próprio e original.
Kalki aprendera que pode haver uma transição
dolorosa para alcançar este estado. Nesta primeira fase o paciente deve se entregar completamente à ação da Medicina sem oferecer
resistência. Após alguns momentos, podem surgir sentimentos de tristeza e angústia,
perda a insegurança. Memórias esquecidas dolorosas podem invadir a consciência.
Esta é a fase da peia a ser suportada, necessária para expulsar os traumas psíquicos
acumulados. Para o paciente aquilo pode parecer durar uma eternidade, quando na
verdade ocupa apenas poucos segundos. Caso esta etapa não seja devidamente atravessada,
as experiências tendem a simplesmente não acontecer e a pessoa pode se sujeitar
a distorções na sua percepção das coisas enquanto durar o efeito químico da substância.
A etapa
seguinte já deve ser caracterizada por uma enorme paz e sentimento de presença,
de se estar plenamente no aqui-e-agora. A pessoa sente-se imensamente tranquila
e feliz. Sua face pode irradiar inocência e seu coração transbordar amor.
Esta fase de experimentos durou alguns
anos na transição entre a adolescência e a fase adulta de Kalki. Ele não tinha
instrutores aparentes mas havia avançado muito em seus conhecimentos. Certamente
os seus Mestres internos já estavam atuando ali para orientar os seus passos
nos caminhos da libertação.
Ignorava ainda de todo os yogas e lhe
sobravam razões para não nutrir simpatias pela religião. Com isto havia a tendência
a persistir em seus experimentos e até a tentar incrementá-los eventualmente. E
com isto ele chegaria numa ocasião bem perto da morte em função de uma experiência
sob superdosagem, a famosa overdose enfim.
Kalki estava prestes a entregar-se à
morte acreditando estar encontrando uma suave libertação. Bastaria para isto adormecer,
porque as suas faculdades psíquicas já estavam parcialmente anuladas. Não
conseguir falar por exemplo, algo nele havia se rompido aparentemente, embora
ele sequer soubesse disto. Horas antes dispensara os seus colegas para poder se
concentrar melhor em suas próprias sensações.
Kalki tendia a acreditar na autonomia
da alma ou na liberdade da consciência, não apenas em função daquilo tudo que lia
na literatura mística, mas porque desde a infância costumava fazer viagens astrais fora do corpo.
Preparou tudo então cuidadosamente para
o seu desenlace final. Para ele era certo que aquela seria a sua última noite neste
planeta de dores e sofrimentos. E num último gesto antes de apagar a luz para
entregar-se ao seu sono fatal, olhou para um livro de sua predileção sobre tais
temas que sempre tinha em sua cabeceira, e uma frase deste livro assomou então à
sua mente, a saber:
“A verdadeira conquista do homem de conhecimento, é
alcançar a libertação em vida e não através da morte”
Esta frase caiu sobre ele naquele momento
como uma bomba. Subitamente intuiu que estava sendo ludibriado por suas próprias
sensações. Com efeito os ensinamentos que buscava seguir então advertiam amiúde
que muitos feiticeiros inexperientes morriam iludidos pelas falsas promessas das
chamadas “plantas-de-poder”. Quiçá os elementais do Soma estavam a lhe
enganar a respeito dos seus verdadeiros poderes como uma espécie de vingança,
após incontáveis eóns em que os seres humanos tem buscado sujeitar o reino
vegetal aos seus próprios caprichos.
A partir disto Kaki desistiu de seu intento
de abandonar o corpo para seguir vivendo. O problema era que uma parte dele já estava
como que desconectada mesmo, tornando o seu eventual sono. Nem refletiu na possibilidade
de meramente esperar passar o efeito do Soma, quiçá isto até nunca mais
acontecesse imaginou. Intuiu que a verdadeira chave da sua libertação estaria
em conseguir voltar a falar. Confirmou então que aquilo simplesmente não era
possível fazer. Restava-lhe meramente insistir e insistir até conseguir. Quando
finalmente alcança recuperar a sua voz, aquilo sai com a força e um urro tremendo,
tal o esforço que precisou fazer para tal.
Tudo isto representou uma grande
lição para Kalki. A partir dali compreendeu que os seus tempos de experimentos
com o Soma poderiam estar mesmo chegando ao fim. Estes e outros acontecimentos trágicos envolvendo o submundo
em que muitas vezes se buscavam estas experiências no Kali Yuga lhe proporcionaram uma ojeriza mortal e definitiva pelas coisas
deste mundo. Decidira querer parar de colocar a sua vida sob riscos
desnecessários. Teria que haver
outras formas neste mundo para ser livre e feliz. Se isto existia ele estava
aberto para conhecer. E as respostas que buscavam não tardariam a lhe aparecer.
Em breve ele receberia o seu grande Chamamento espiritual, e então daria adeus para sempre a este mundo experimental que, não obstante, ainda lhe serviria de referência nos seus primeiros anos de yoga, porque um de seus objetivos era alcançar através das prática de yoga estados de consciência ampliados como aqueles que obtivera através do Soma. Sabia que quando isto fosse possível, tudo aquilo seria seu para sempre e ele estaria de fato livre. Poderia não seria ainda uma verdadeira iluminação, mas pelo menos a clareza, a paz e a força estariam já à sua disposição, sem os riscos que os artifícios da magia podem trazer.
3. Conclusões
A relação das drogas e do sexo com a espiritualidade
seguem sempre muito fortes por causa das dimensões idílicas e prazerosas que são
capazes de proporcionar. Tudo isto tem sido também alvo de grandes conflitos morais
e espirituais. No entanto tudo pode ser harmonizado quando tem-se sabedoria o
suficiente para fazê-lo. Passemos então a alguns exemplos práticos, com destaque
para o tema das substâncias.
Existe uma dialética mais ou menos
natural entre Soma e espiritualidade. O Soma pode ampliar a consciência
de início, porém isto deve ser visto como uma simples informação e não pretender
seguir repetindo aquilo indefinidamente. A pessoa deve pelo contrário buscar
caminhos espirituais verdadeiros para sedimentar aquele estado de consciência elevado.
O simples fato dela ter sucesso na experiência do Soma é uma indicação de que
tem vocação para cultivar a sua espiritualidade.
Tal coisa deve ser porém realizada
sem demora e empregando as melhores técnicas. Aquele que não exercem a sua espiritualidade
com pureza e maestria -sem misturar com substâncias- tendem a fatigar-se em
seus esforços por não alcançar os resultados almejados e, assim, retornar para
a dependência de substâncias. Esta é infelizmente uma situação comum e muito lamentável.
Assim, da mesma forma como os enteógenos
foram um elemento importante nas raízes da espiritualidade humana, eles também podem
ter eventualmente um papel na preparação das consciências para a verdadeira
espiritualidade. O verdadeiro problema aqui está na forma do uso. Para efeitos
de segurança podem ser ministradas substância mais suaves de início para testar
os efeitos no paciente. E tão importante quanto a sua introdução será o posterior
desmame. Nenhuma Medicina merece este nome caso o paciente se torne dela dependente
de algum modo, seja psíquica, física ou até espiritual.
Vemos hoje mesmo uma grande profusão
do emprego da chamada “Medicina Sagrada tradicional”. Práticas ancestrais têm
evadido para os grandes centros onde os novos usuários tem pretendido adotar substâncias
de uso ritual tradicional que supostamente não viciam e eventualmente tampouco são
proibidas. Dizem que a droga mais perigosa é aquela que parece mais inocente. Pesquisas
podem ser manipuladas e pode-se pretender ignorar o vício psicológico.
Enfim nada pode substituir a verdadeira
espiritualidade interior, que representa o autêntico auto-empoderamento e
liberação, conduzindo por fim à iluminação.
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