“Apenas os pequenos segredos precisam ser guardados, os grandes ninguém acredita” (H. Marshall)

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A Meditação Criativa em Alice A. Bailey

"...nada há de pouco prático em se dar informações com referência à iniciação, como alguns podem pensar. Não há momento do dia em que a meta não possa ser visualizada e o trabalho de preparação levado avante..." (Alice A. Bailey, “Iniciação, Humana e Solar”) 

A meditação criativa na luz -e outros centros complementares- representa exatamente a técnica que buscam sugerir as Estâncias de Dzyan através de termos como Manasaputras, “Filhos da Mente”, e Agnishwatas, “Senhores da Chama”.

Alice A. Bailey trata do tema da meditação criativa em muitas de suas obras, as vezes de forma mais aberta e outras em termos mais velados, especialmente quando pretende fornecer certas chaves mais avançadas. Em sua importante obra “Discipulado na Nova Era” (Volume I, pgs. 84 a 96), Bailey trata com bastante desenvoltura da questão. As citações que seguem são todas desta obra, integrando o segmento “Falas aos Discípulos”, Parte Nove.

A introdução trata pois da importância de executar o poder da visualização da luz, representando a base mesma da verdadeira meditação: 

"O segredo de todo verdadeiro trabalho de meditação em seus estágios iniciais é o poder de visualizar. Esta é a primeira etapa a ser dominada. Os discípulos devem colocar ênfase sobre este processo; nele encontra-se, ao final, a capacidade de usar os poderes criativos da imaginação, mais a energia mental, como uma medida para promover os fins da Hierarquia e para a realização do Plano Divino.” 

Assim o domínio da forma-pensamento estaria na base da prática real da meditação, algo que já vai muito além da proposta simplista e recorrente de “controlar os pensamentos”, termo que tampouco exclui o seu uso direcionado naturalmente. Não vamos dizer que a prática de calar ou acalmar a mente seja uma técnica pré-mental, amanasa, atlante ou pisciana, mas sim que como toda a técnica negativa ela é apenas preliminar à verdadeira prática, que no caso seria de empregar a mente de uma forma positiva ou criadora. O ser humano possui um destino mágico. Ele está sempre criando com o pensamento e respira aquilo que pensa. Porque não pensar e respirar então apenas coisas boas e positivas? Como luz, amor, paz, alegria, felicidade…?!

Bailey (O Tibetano) afirma também “todos os novos processos em técnicas de meditação (que são responsabilidade da Nova Era) devem e vão incluir a visualização como um passo preliminar”. Não diríamos que se trata de algo assim tão novo, já que antigas escolas já os praticavam, porém integra seguramente um quadro de resgates e difusão de conhecimentos. Na sequência a amanuense trata então de listar as “razões” pelas quais tal coisa deve acontecer (a citação é longa):

Prática Dzogchen, Tibet

“1. A visualização é o passo inicial para a demonstração da lei oculta que ‘a energia segue o pensamento.’ Isto, naturalmente, todos os interessados em estudo ocultista reconhecem teoricamente. Uma das tarefas que confrontam os discípulos é alcançar o conhecimento factual disto. A visualização pictórica (que é uma característica definitiva do trabalho em muitas escolas esotéricas) é simplesmente um exercício para desenvolver o poder de visualizar. No trabalho dos discípulos que estão sendo treinados para a iniciação, este aspecto externo de visualização deve dar lugar a um processo interior, que é o primeiro passo para dirigir a energia. A visualização de imagens se destina a concentrar o aspirante na cabeça em um ponto intermediário entre o corpo pituitário e a glândula pineal. Nessa área, ele projeta imagens e pinta cenas e, assim, adquire a facilidade para ver - no conjunto e em detalhe - o que ele deseja e para o qual ele pretende trabalhar. A visualização do que poderia ser chamado de ‘processo dirigido’ ocorre de maneira mais focalizada na área diretamente ao redor da glândula pineal. A glândula pineal, em seguida, torna-se o centro de um campo magnético que é ativado, em primeiro lugar, pelo poder da visualização. Nesse ponto, a energia é acumulada pelo discípulo e, em seguida, dirigida com intenção a um dos centros. Este pensamento focado produz efeitos inevitáveis no corpo etérico e, portanto, dois aspectos da imaginação criativa são ativados.”

O texto trata de discernir pois entre certas práticas místicas correntes de “visualização pictórica” passiva, mormente impulsionado por kama-manas e pela devoção, de uma proposta efetivamente ocultista de imaginação dinâmica mediante kriyashakt e fohat, capaz de envolver ativamente os chakras de atma-budhi-manas através de um “processo dirigido” a partir da glândula pineal com foco em bodhicitta, a mente iluminada. 

Mesmo certas práticas new age empregando as sete chamas ou a própria chama violeta, ainda permanecem neste plano de “imaginação pictórica” passiva, produzindo algum efeito somente a um nível psíquico, por assim dizer. Para usar uma imagem, pode-se comparar este quadro a acender uma simples vela, em contraste com a potente energia de um maçarico quando se emprega de forma realmente dinâmica e direcionada as energias dos centros.

Na sequência passamos a observar então certas questões técnicas envolvendo tal prática, empregando a autora a expressão “imaginação criativa”:

“2. O poder de visualizar é o aspecto de construção de formas da imaginação criativa. Este processo se divide em três partes, que correspondem de certa forma ao processo criativo seguido pela própria Divindade:

“a. A acumulação de energia qualificada nos limites de um círculo-não-se-passa.

“b. A concentração desta energia, sob o poder da intenção, em um ponto próximo da glândula pineal. A energia está assim concentrada e não difusa.

“c. O direcionamento desta energia focada por meio de um processo pictórico (não por um ato da vontade neste momento) em qualquer direção desejada, isto é, a certos centros em determinada ordem.”

Ioga Solar, Egito

Com efeito o processo é trino sob diferentes aspectos, a começar pela transferência de energias da tríade inferior para a superior, de forma ordenada e específica, ou seja: o “direcionamento desta energia” a “certos centros em determinada ordem”. 

O trecho acima enfatiza porém palavras como “acumulação” e “concentração”. Aqui devemos observar a importância de contar com outro recurso que é o do mantra, mais especificamente o OM como a autora também enfatizará em outras passagens, uma vez que “o som é o veículo da energia”, proporcionando assim volume aos trabalhos. Da mesma forma que toca angariar qualidade através da energia do coração.

Na sequência temos novos detalhes sobre a técnica em questão:

“Este processo de direcionamento da energia pode se tornar um hábito espiritual, se o discípulo começar a fazê-lo lenta e gradualmente. No início, o processo de visualização pode parecer difícil e inútil, mas, se perseverar, ele descobrirá, finalmente, que se torna fácil e eficaz. Esta é uma das maneiras mais importantes em que um Mestre trabalha; é essencial, portanto, começar a dominar a técnica. As etapas são as seguintes:

“a. Um processo de acumulação de energia.

“b. Um processo de focalização.

“c. Um processo de distribuição ou direcionamento.

“O discípulo aprende a fazer isso dentro de si mesmo e mais tarde a dirigir a energia (de algum tipo escolhido e particular, de acordo com a demanda da ocasião) para o que está fora de si mesmo. Isto constitui, por exemplo, uma das principais técnicas de cura do futuro. Também é utilizado pelo Mestre para despertar em Seu discípulo certos estados de consciência.”

O segmento começa pela admoestação sobre a importância da perseverança, já que incialmente tudo pode parecer um tanto vago ainda, mas com o tempo e o devido treinamento os frutos serão certamente colhidos. Com efeito a tendência à medida em que o praticante refina e concentra a sua energia é da prática tornar-se rápida, leve e também efusiva.

Para isto a técnica é resumida em termos de acumulação, focalização e direcionamento de energias. A imagem abaixo dos Brahma Kumaris ilustra também a questão.

A citação enfatiza no final a importância da técnica para os trabalhos de cura e também seu emprego para impactar a aura dos discípulos com novas energias. Rumando para a conclusão, o texto trata de demonstrar o ganho de consciência e de energia que representa este método. Citemos pois: 

“3. O poder de visualizar corretamente é um modo definitivo de averiguar a verdade ou a falsidade. Esta é uma afirmação difícil de compreender. A visualização é, literalmente, a construção de uma ponte entre o plano emocional ou astral e o nível mental e é, portanto, o que corresponde na personalidade à construção do antahkarana. O plano astral, o segundo aspecto da personalidade, é a correspondência com o aspecto de construção de forma da Trindade, o segundo aspecto. 

“A imaginação criativa ‘imagina uma forma’ através da capacidade de visualizar e a energia da mente dá vida e direcionamento a esta forma. Concretiza um propósito. Assim, um relacionamento ou linha de energia é construído entre a mente e o veículo astral e torna-se uma linha tríplice de energia quando a alma do discípulo está utilizando este processo criativo de forma planejada e definitivamente construtiva."

Prática Dzogchen, Tibet

Deste modo o trabalho da projeção da energia realizada pela técnica criativa acrescenta dinamismo interno, pois depende do emprego dirigido da vontade, desenvolvendo novas faculdades internas e ampliando o nosso poder criador, com reflexos diretos em nossas estruturas internas que podem ser assim definitivamente transformadas, repolarizando as nossas energias desde o plano da alma para o do espírito. E com isto a consciência finalmente âncora num universo de verdades eternas e autônomas, posto que o mundo da alma também retrata amiúde versões apenas aparentes ou transitórias das Grandes Realidades.

A ideia da tríplice corrente do Antahkarana mencionado conflui com a natureza trina de Kundalini e corresponde às hipóstases de som, luz e amor que caracterizam e resumem as energias humanas em evolução.

A conclusão reitera então quanto ao papel desta técnica no trabalho dos Mestres e sua pertinência e importância para os tempos atuais:

“Este processo de visualização e o uso da imaginação formam os dois primeiros passos na atividade de construção de pensamentos-forma. É com estas formas autocriadas - incorporando ideias espirituais e propósito divino - que os Mestres trabalham e o propósito hierárquico toma forma. Portanto, é essencial começar a trabalhar com deliberação e lentamente desta maneira e a utilizar as informações acima construtiva e criativamente. A necessidade dos tempos está cada vez maior e é necessário o máximo de trabalho e propósito.”

Com efeito o processo de visualização surge comumente como a base da prática da meditação solar, como demonstram também as Séries Esotéricas de Tutankamon que temos divulgado, para passo a passo incorporar também o amor e o som (mantra). Talvez isto aconteça porque a terceira iniciação está mesmo polarizada no plano mental, cabendo observar então que tal técnica destina-se também a despertar a clarividência, que é uma das grandes caraterísticas da terceira iniciação, possibilitando enxergar também nos planos etéricos onde situam-se outros reinos e onde os próprios Mestres também podem frequentar.

Há mesmo muitas razões para que estes conhecimentos sejam aplicados à vida na atualidade, seja para efeitos de transição dos ciclos ou de resgate do verdadeiro dharma espiritual áryo, como também em função dos novos ciclos planetários que terão tais recursos como práticas regulares, como é o caso do Terceiro Sistema Solar (Kalpa, Ano Cósmico) que se anuncia.

* Sobre o Autor:

Luís A. W. Salvi é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 

Imagem: LAWS  no Templo de Kwan Yin, 2008, Alto Paraíso.


O Elo Perdido da Ioga

 É importante notar que, na Filosofia Tântrica do Yab-Yum (“pai-mãe” das práticas), o aspecto “Sabedoria” (ou prajna) corresponde ao Vazio (sunya) e o aspecto “Método” (meios hábeis ou upāya-kauśalyacorresponde à Compaixão (karuna). O vazio -que é um dos temas centrais da escola Budista Mahayana-, representa pois o exercício da entendimento e da percepção clara da Alma sem máculas.

Naturalmente o tema nos leva ao estágio central da Ioga Óctuple de Patânjali que é pratyahara ou a abstração dos sentidos, o qual infelizmente tem sido um dos elementos menos valorizados do sistema ioga, quase um elo perdido da espiritualidade -pese representar o grande elo de ligação entre os estágios mais físicos e os estágios mais internos da ioga. Então pratyahara não é apenas o elo do yoga, como é também um elo perdido...

Esta falta de conhecimentos sobre pratyahara contribuiu na confusão sobre a verdadeira natureza da evolução na ioga. Caso pratyahara não fosse importante Patânjali não o teria incluído na sua Ioga clássica de Oito Partes. Na verdade nem seria exagero dizer que no momento em que este pilar central está abalado, todo o edifício superior da ioga também fica prejudicado. Quer dizer: se perdem os significados e os conteúdos verdadeiros dos estágios mais avançados. Mesmo no Budismo tem-se prescrições como concentração e meditação corretas, o que tampouco deixa de soar vago, caso não haja um guru habilitado para ensinar o caminho.

Uma das grandes vantagens de sistematizações como a Ioga das Oito Partes é facilitar o discernimento dos estágios preparatórios. Já tivemos a oportunidade de demonstrar as semelhanças entre a senda óctuple do Budismo com a Ioga de Oito Partes de Patânjali –ver nosso video “Os Oito Passos da Iluminação - a Senda Oriental e os Desafios Toltecas”.

O culto budista do vazio até poderia ser considerado uma abstração ou um afastamento dos sentidos, simbolizado no Zen pela famosa técnica de “olhar para a parede”. E no entanto a ioga nos irá pedir foco, e portanto envolvimento. É possível admirar a beleza austera dos desertos -ou de um jardim zen- e nela buscar refúgio. Porém a alma se alegra bem mais num belo jardim japonês com todos os elementos naturais devidamente harmonizados. Então podemos também encontrar uma grande identidade entre o pratyahara com o exercício da contemplação. 

No Budismo Tibetano, também podemos relacionar esta prática ao Trekchö, que é a base do sistema Dzogchen ou Ati-Yoga da “Grande Perfeição”. Alguns lamas dão inclusive um elevado valor a esta prática, considerando as fortes tedências contemplativas do Budismo atual. Citemos então:

Namkhai Norbu faz uma distinção entre dzogchen ‘contemplação’ propriamente dita (Trekchö) e ‘meditação’. Segundo Norbu, a contemplação é ‘respeitar o estado não dual [ou seja, rigpa] que, por sua própria natureza, ininterruptamente auto-liberta’, enquanto a meditação é qualquer prática ‘trabalhando com a mente dualista e relativa, a fim de permitir que alguém entre no estado de contemplação’. Norbu acrescenta que todas as várias práticas meditativas encontradas nos ensinamentos de Dzogchen (como os ‘seis yogas’) são simplesmente meios para ajudar os praticantes a acessar rigpa e são, portanto, ‘secundários’.”

Vejamos pois um pouco o que consiste este que costuma ser considerado como o elo entre a parte mais física e a parte mais mental da ioga. Pratyahara significa “retração dos sentidos”, e por seu intermédio requalificamos as nossas percepções. Para isto podemos abrir-nos aos estímulos convidativos do templo na forma de luzes, sons, formas e aromas.

Podemos dizer com isto que o pratyahara representa um certo sopro de magia entremeando as técnicas da ioga. Existem duas formas de magia, uma com foco na consciência e outra embasada nas técnicas. A magia consciencial, que seria o objeto de pratyahara, é alcançada pelo entorno cativante -incluindo naturalmente as pessoas e o próprio guru-, tal pela auto-entrega da alma. A auto-investigação à maneira vedantina também pode ser empregada com sucesso para desenvolver este estágio da ioga.

Este seria pois como um momento de reverência antes de adentramos nas etapas realmente interiores da ioga, como uma espécie de reforço afetivo de Yama e Nyama, as raízes éticas da ioga tratada na segunda parte desta Série.

Um dos aspectos de pratyahara é inclusive a visualização interior, especialmente de imagens, que é uma prática muito usada nas meditações tibetanas de visualizações dos Budas. Podemos concluir, por fim, que a verdadeira interpretação para pratyahara seria aquela do refinamento e do envolvimento pleno dos sentidos em torno da prática espiritual.

Os três estágios seguintes da ioga integram samyama -ou seja concentração, meditação e Samadhi. E seriam na realidade estágios aparentemente mais áridos, por assim dizer, caso a pessoa não estivesse já muito imbuída de elementos internos para conferir os conteúdos ocultos necessários.

Pratyahara representa pois um alicerce para as práticas superiores da ioga, sem o qual podemos dizer que os esforços nos estágios avançados como que ficam truncados e reduzidos a variações dos aspectos elementares, como é o caso de Dharana mesma, a concentração, como acontece na maior parte dos esforços meditativos da atualidade. Daí praticamente não se conseguir mais acessar a verdadeira meditação em nossos tempos, reduzidas como ficam as coisas a Dharana tão somente...

Mais que uma abstração dos sentidos numa acepção de afastamento, aquilo que a ioga avançada realmente exige é integridade e refinamento. Por isto nesta altura pratyahara faz um verdadeiro apelo à Alma para que venha participar plenamente das práticas. A Alma como que é convidada a assumir o controle das coisas, deixando os estímulos externos definitivamente de lado. Como a dizer que somente espíritos maduros é que podem realmente meditar com proveito. É em pratyahara que realizamos pois o contato com o Ser, o Observador, o Eu Superior enfim, sem o qual corremos o risco de tentar avançar para as camadas mais avançadas da ioga carregando um ego ainda muito ativo.

Neste aspecto pratyahara tem muito a ver com a segunda iniciação, devocional e de caráter psíquico, que é a consolidação do próprio Templo da Alma.

Talvez a melhor tradução para pratyahara seja “controle dos estímulos”. E no entanto este controle pode ser visto no sentido de um redirecionamento, de uma abstração ou interiorização. Na realidade pratyahara indica um grau de não-identificação com os estímulos sensoriais, um afastamento que se pode observar no relaxamento profundo e também na atitude de observador dos nossos próprios pensamentos.

Tudo isto ajuda pois a afastar a nossa atenção de outros estímulos dispersivos do cotidiano, permitindo ato seguinte efetuar a concentração ou dharana, focalizando a atenção num só objeto, como um mantra ou alguma imagem qualquer, como uma deidade ou um símbolo.

Obsessores - um desafio do Kali Yuga


O Reino da Consciência – A Loja Negra – Um Astral Pesado – Anima e Animus – O Anjo da Guarda – Provação e Evolução – Terreiros e Espíritas – Cerrando as PortasKali e DurgaA Dança de Shiva

A espiritualidade representa um caminho sempre com muitos desafios, entre os quais se encontram esta espécie de provação espiritual que são os espíritos obsessores -e cuja disseminação seria especialmente comum -e como seria mesmo desse esperar- nas épocas mais materialistas da história. Na verdade todo estão sujeitos a obsessão, porém somente religiosos e espiritualistas é que podem realmente considerar a questão um problema a ser tratado.

A Espiritualidade está muito relacionado a conquistas e sínteses, mas nem por isso deixa de tratar também de mazelas e desafios, porque é justamente trabalhando as nossas sombras que conquistamos a nossa própria luz, como uma espécie de compensação natural das coisas. Então o conhecimento da luz ou da sombra é sempre uma referência para alcançarmos a compreensão dos potenciais em vista, uma vez que um extremo sempre pode sinalizar o outro.

Isto significa também que o autoconhecimento representa uma das chaves-mestras para a evolução interior, ainda que por autoconhecimento não se esteja aqui limitando as coisas ao chamado “mundo interior” uma vez que a Tradição realmente não separa as coisas, de tal modo que um plano sempre será símbolo ou referência para o outro. E isto é muito importante de compreender, porque os inimigos da nossa evolução atuam muitas vezes visando justamente nos afastar da nossa verdadeira essência, na forma das mais diferentes formas de alienação portanto.

No presente trabalho pretendemos trazer então algumas respostas para as seguintes questões: Porque existem ou são permitidos estes espíritos obsessores? Por que razão eles nos atingem ou nos são enviados? Quais os tipos de obsessores mais comuns? Quais seriam os seus alvos preferenciais? De forma eles nos atingem e o que pode ser feito para nos libertar dessas energias?

 

A Origem dos Obsessores

 

Comecemos questionando porém por qual razão existem ou são permitidos estes espíritos obsessores? Todo ser humano é um sensitivo mais ou menos desenvolvido, como um dos tantos atributos do seu dom especial de consciência. Com isto ele é capaz de sintonizar com este ou com aquele plano, conforme a qualidade da sua própria energia -e as mulheres ainda mais por sua própria natureza.

As forças trevosas possuem uma estrutura complexa e não raro organizada; sua origem vêm de muito e muito longe na evolução humana e até mesmo pré-humana, sendo que elas sempre foram cruéis e poderosas, até em função desta sua origem assim tão primitiva. No entanto a forma como ela atinge a humanidade pode variar muito conforme os ciclos do mundo e das próprias sociedades.

No Kali Yuga o grau de violência, destruição e massificação chega ao seu auge, daí também a atmosfera psíquica se tornar particularmente carregada, criando daí círculos viciosos importantes nas relações entre os mortos e os vivos. O mito do dilúvio tem direta relação com tudo isto, em especial o próprio domínio avassalador do hedonismo na cultura, como expressão direta de uma sociedade obsedada e definitivamente sem rumos...

As forças espirituais em geral costumam sondar a atmosfera sutil do planeta em busca de auras especiais -as forças do bem para ajudá-las e as forças do mal para atrapalhá-las. Almas puras também podem dar lugar a assaltos no seu interior em momentos de descuido, e eventualmente a pessoa pode até terminar por alimentar estes obsessores de modo a instalá-los em definitivo na sua própria aura, na medida em que incorpora vícios na forma de atos, palavras ou pensamentos.

A partir do momento em que o ser humano despertou a sua auto-consciência, o verdadeiro foco da sua cultura passou a ser o da própria consciência, a forma como preservá-la e desenvolvê-la. Naturalmente se ele se conforma com as coisas como estão terá uma vida pacata e limitada, mas se ele se rebelar contra a servidão espiritual imposta pelos obsessores, aí ele poderá começar a viver uma batalha com outros ganhos e perdas. Tudo dependerá portanto dos seus próprios valores e opções de vida.

Não obstante, os obsessores manifestam pouco interesse em pessoas fracas e com pouca energia. Quando uma pessoa está com sua aura fraca, ou padece de enfermidade ou de debilidade, ou quando abre demais os seus chakras -através de drogas, por exemplo-, ela pode sentir temores incompreensíveis, ou que está sendo vampirizada e até mesmo medo de morrer. O medo impera naturalmente no astral baixo do planeta. Ataques de pânico, insegurança e paranoia podem resultar desta suscetibilidade inadequada às energias inferiores. Desta forma a pessoa consegue acreditar em infernos, e compreende que o mal gerado pela violência através das eons nunca fica incólume nos mundos internos.

Uma paranoia pode ter até um motivo real para se desencadear lá, mas se a pessoa não é capaz de racionalizar a situação para tratar de superá-la, é porque aquele motivo serviu apenas para gatilho para revelar uma fragilidade interna.

Os obsessores em si são muitas vezes simples cascões astrais dos desencarnados, sendo esta uma das razões para a cremação dos corpos, facilitando o afastamento destes zumbis da atmosfera do planeta, tal como a sua manipulação perniciosa pelos operadores das trevas. Consta que um espírito em estado larval tende a buscar satisfação em ambientes baixos ou pesados. Ele também pode ser cooptado e até chantageado por espíritos negativos mais poderosos com promessas de sobrevida e satisfação.

Sua relação com pessoas encarnados se deve em parte à própria necessidade que a vida tem de preencher os espaços no Universo, incluindo os próprios espaços espirituais ou conscienciais. Caso o ser humano fosse mais evoluído estaria imune aos assaltos destes invasores, tal como os mestres também estão. Então sua presença se deve basicamente ao próprio carma da evolução.

Os obsessores atuariam daí como uma espécie de seleção da espécie a nível espiritual ou da consciência, que é o nível para o qual a evolução foi praticamente transladada naquelas espécies que evoluíram também para outras dimensões da existência. O despertar da consciência, mesmo ainda em níveis rudimentares, representou uma transformação profunda na condição das espécies. A partir dali esta evolução se transladaria na prática -e em definitivo- para níveis mais subjetivo de coisas. Com efeito sabe-se que a humanidade representa uma espécie de terreno fértil para a troca e a difusão de energias entre entidades de diferentes reinos, incluindo seres encarnados e desencarnados.

Ao longo da evolução das espécies e, em especial, da própria evolução humana, com todas as suas insondáveis complexidades, várias linhas de energias foram se desenvolvendo, existindo ainda muitas coisas primitivas que a média da humanidade já sequer sonha ser possível. Mas nisto tudo também existem as forças luminosas, que da mesma forma desenvolveram os seus próprios recursos e habilidades, inclusive para se defender dos ataques das sombras.

Estas forças de luz tratam então de equilibrar as coisas da melhor forma. Certo mestre decretou inclusive que a evolução espiritual dos seres depende necessariamente neste mundo de dois pilares: o Mestre e o Inimigo. Significaria daí que o ainda Bem não seria mesmo possível sem o Mal, ao nível da própria humanidade; e como diz o Apocalipse, “porque sois mornos, nem quentes ou frio, vos vomitarei de minha boca”.

E isto de modo nenhum significa que a luz e as trevas tenham qualquer tipo de pacto -muito antes pelo contrário! Apenas que, diante do contexto das energias cármicas ou trevosas do planeta, a luz normalmente ergue uma barreira de proteção para aqueles que se perfilam ao seu lado. Aqueles que conhecem a fundo a natureza da espiritualidade, sabem tudo o que um único iluminado verdadeiro é capaz de fazer por todo o planeta. Se considerarmos que a nova raça se destina a disseminar a iluminação, então saberemos que o mundo ruma realmente para tempos melhores -talvez até mesmo para aquela condição de Planeta sagrado de que fala certo esoterismo...

Para compreender melhor toda esta situação, tenhamos em mente o contraste ilustrativo entre as Idades de Ouro e a de Ferro –até porque estamos mesmo agora numa Idade Negra. As relações da Humanidade com as Hierarquias são muito diferentes nestas condições extremas da humanidade. Diz-se que na Idade de Ouro “os deuses andam sobre a terra”, ao passo que na Idade Negra os mestres estão distantes –ainda que o seja apenas na aparência. Neste ciclo de trevas e de egoísmo as orientações da espiritualidade não costumam ser bem recebidas, então não resta muita mais do que semear aqui e ali algumas luzes e aguardar que cada qual avance por sua própria conta e risco, para desde fora cuidar do caminhante da forma com for possível na sua arriscada jornada.

Contudo, a melhor forma de ilustrar toda esta questão pode ser comparando a situação do noviço com a do iniciado perfeito. A proteção que recebe o iniciante é a maior possível, podendo ser comparada à da criança sob a o cuidado do seu anjo da guarda. Estas são as bodas do espírito, o noivado da luz, quando tudo são apenas flores. O aspirante recebe ali um cuidado extremo semelhante ao que merece um frágil rebento de planta no solo. Ele precisa então ser protegido e encaminhado, para não ser desencaminhado e para que as suas aspirações encontrem solo fértil.

E no outro extremo das coisas, quando o iniciado já é experiente e trilhou um caminho sólido e está preparado para enfrentar altas provações, as atenções que lhe presta a Hierarquia são já bem diferentes. Funciona agora mais como um comando de guerra, onde o coronel experiente ordena esta ou aquela ação e cabe ao próprio soldado dar o melhor de si. As baixas não serão raras e os feridos muitos, mas nesta altura é isto mesmo o que se espera das coisas.

Na verdade isto é muito parecido com o sentimento de desespero de Jesus ao queixar-se na cruz de que “o Pai o havia abandonado”. Certamente o nazareno recebeu então toda a assistência que necessitava para cumprir a provação a que estava conscientemente se submetendo, ainda que sob o peso da dor ele tenha sentido o abandono, até porque é parte mesmo daquela iniciação o contato com a dor mais extrema que o ser humano possa suportar, para desta forma conseguir superar a sua velha condição humana –mesmo que muitas vezes a própria morte colha a pessoa em provação durante este ordálio.

Assim, a proteção que a humanidade recebe depende muito da energia espiritual que ela mesma desenvolve ou que admite no seu próprio convívio. Uma Idade de Ouro representaria uma época bastante resguardada de toda a forma de mazela espiritual. Sabemos porém estarmos na atualidade num período praticamente oposto, onde o dharma ou a espiritualidade encontra-se na cota mínima possível. Então, tampouco seria casual os vínculos entre a feitiçaria com o Kali Yuga, a Idade das Trevas.

Contudo, este é também o carma das pessoas encarnadas neste período, de modo que a melhor coisa a fazer será, após inteirar-se das suas condições, buscar os recursos possíveis e necessários para contornar as limitações impostas por estas energias invasoras. Na verdade, aqui também existe outra questão espiritual interessante, na linha daquilo que já vimos mais acima. Acontece que o aumento das provas está diretamente relacionado ao crescimento dos potenciais espirituais daquela situação, uma vez que cada desafio demanda naturalmente uma resposta à sua altura. No simbolismo geral, a celebrada Idade de Ouro está relacionado na verdade meramente ao noviciado espiritual, e não a estágios a avançados das raças ou das suas iniciações.

Pouca gente sabe que certas iniciações avançadas também implicam num contato frontal com as forças trevosas, para este ou aquele fim. O resultado esperado é também uma mudança profunda de consciência e de energia no ser humano –considerando que nesta altura o iniciado também terá realizado já uma preparação satisfatória para superar certos desafios. Coisa não muita diferente é aquilo que acontece pois com a humanidade no Kali Yuga planetário, posto que a humanidade em conjunto terá atravessado já várias iniciações, potencializando assim o enfrentamento de novos e importantes desafios daqui para frente –e onde o contato com estes adversários espirituais pode ser apenas a antessala de novas realizações. E para isto os tempos também trazem ensinamentos mais adequados para cada época, como veremos ao final deste trabalho.


Alvos principais dos Obsessores

 

A consciência de que no Kali Yuga o astral é mais pesado, deveria servir para colocar sociedades inteiras em estado de alerta. Dentro disto, podemos alencar então as quatro categorias de pessoas que seriam mais visadas ou vulneráveis:

1. Pessoas importantes

2. Pessoas sensíveis

3. Mulheres

4. Crianças

Pessoas importantes e sensíveis seriam muito visadas, ao passo que mulheres e crianças seriam por si só muito suscetíveis. Através das pessoas importantes as forças espirituais de bem ou mal podem atingir mais pessoas; por isto as pessoas famosas podem enlouquecer ou se iluminar, a depender do tipo de abertura que elas mesmas dão para as forças espirituais. E pessoas sensíveis são visadas pelas trevas para atrapalhar que possam se tornar veículos para a luz espiritual no mundo.

Já mulheres tem toda uma grande abertura para mundo interior, o que as torna suscetíveis também às influências negativas, foco eventual de sedução espiritual caso a pessoa se apegue a supostos benefícios que estas energias possam lhes proporcionar. E crianças por sua vez, como “telas em branco” que são, podem se tornar veículos de energias trevosas caso recebam uma educação corrompida e descuidada, sendo esta uma das possíveis explicações da psicopatia.

 

Tipos de Obsessores

 

E de que forma atuaria então um obsessor, quais os seus propósitos e quais seriam as suas modalidades mais comuns? Inicialmente não é possível simplificar ou generalizar um assunto desta natureza. Ainda assim existem aspectos mais gerais relacionados à própria natureza humana e mesmo das espécies em geral. O obsessor comum atinge a essência da natureza elementar da pessoa, neutralizando assim a sua capacidade criativa. Em outras palavras ele neutraliza o potencial da pessoa a partir do seu próprio gênero. Ou seja: quem é ativo por natureza -no caso o homem- fica passivo, e quem é passivo por natureza -no caso a mulher- fica ativa. E com isto as naturezas humanas ficam falseadas e esterilizadas espiritualmente, porque estarão meramente simulando falsas naturezas.

O obsessor induz a pessoa a criar bolhas de auto-satisfação, que pode incluir naturalmente todo tipo de droga -afinal toda droga induz a criar bolhas de um ou de outra natureza e exige muito discernimento, orientação e desprendimento para se usar-, mas também adquire aspectos mais sutis de vaidade e de culto do próprio ego, fundado neste ou naquele motivo mais ou menos superficial. Nisto tudo podemos ver a ação de obsessores, induzindo a pessoa ao isolamento do mundo é à fragmentação do ser.

Na verdade todo um conjunto de coisas podem terminar por influenciar estes comportamentos, como cultura e modismos, porém certamente a presença dos obsessores será da mesma forma determinante nisto. Naturalmente as drogas são um convite aberto para a própria obsessão, tendo da mesma forma reflexo direto nas tendências de gênero como veremos.

No caso da passividade masculina, tal coisa ficou muito patente no paradigmático episódio do “pacifismo” de Arjuna, e que o avatar Krishna argutamente interpretou como sendo isto sim passividade, um comportamento que não caberia num homem digno e nobre. Um iniciado nunca pode pensar que o fato de ter um mestre irá lhe evitar de entrar numa batalha -na verdade as coisas funcionam muito antes pelo contrário! O mestre é apenas um apoio para o iniciado conseguir vencer as suas próprias batalhas. Um mestre apenas apoia um discípulo que está disposto a da mesma forma encará-las, tal como ele mesmo o realizou um dia.

Já nas mulheres seria o mesmo que querer enfrentar situações muito ativas para as quais nem a sua fisiologia e nem a sua bioquímica estão preparadas, demandando para isto reforços nos vícios e em... obsessores da mesma forma. No seu subjetivismo, tal como na falta de informação e de educação que existe no meio espiritual, facilmente a mulher pode se confundir e ser vítima das forças negativas. E neste caso, a própria fragilidade feminina pode resultar numa armadilha.

Carente comumente de maiores energias para enfrentar as coisas -especialmente quando o mundo demanda atitudes mais ativas-, as mulheres podem interpretar a presença de certas energias ativas nas suas vidas como algo até positivo, sem mal dar-se conta do preço que poderão estar pagando por isto. Uma apreciação viciosa destas tendências obsessoras ativas recebe o nome de morbidez. Basta ver então a forma como as mulheres modernas apreciam os estimulantes químicos. Nos casos mais extremos a situação pode dar origem ao fenômeno espiritual das bruxas, quando a mulher busca se especializar no manejo das energias sutis, incluindo com pérfidas inclinações.

A obsessão é muito parecida com um vício, porém mais complicada porque, além de considerar que aquilo lhe traz certos benefícios (claro que nenhum deles propriamente espirituais) a pessoa pode se identificar com esta energia e não querer considera-la como algo exterior a si. O maior problema da obsessão é quando a pessoa não quer se livrar dele, e daí ela como que encarna o próprio obsessor...

Quando a fábula nos conta sobre uma princesa adormecida, de que sono afinal se está falando? É claro que a princesa está adormecida para a sua própria natureza, talvez de uma forma profunda, tanto em relação ao seu próprio gênero como também da sua verdadeira nobreza espiritual, nobreza esta ocultada justamente pelo seu afastamento da sua legítima natureza, impedindo-a de manifestar o seu profundo encanto espiritual feminino...

Da mesma forma que inversamente os homens também são muitas vezes levados a um emprego de drogas tranquilizantes, num mundo que não raro cerceia a manifestação das suas energias viris. Uma apreciação viciosa destas tendências obsessoras passivas recebe o nome de cinismo. Cabe pois evitar aqui comportamentos tradicionalmente considerados aviltantes da natureza específica dos gêneros.

Quando um indivíduo avilta a sua natureza com drogas ele está basicamente se auto-boicotando –uma auto-castração que atinge os aspectos mais sensíveis do ser humano, que são os seus aspectos humanos e espirituais mais profundos e verdadeiros; além de incluir por indução também a castração do outro. Porém a obsessão espiritual é um problema um pouco mais complexo. Os obsessores atuam como se fossem drogas espirituais, aviltando a natureza da própria pessoa. Os obsessores masculinos são geralmente uma espécie de espíritos flutuantes ligados à consciência vegetativa descrito como “burgueses”, produzindo acomodação, covardia, luxúria e indiferença -tal como descritos na literatura de Carlos Castaneda. E os obsessores femininos são comumente espíritos ligados à consciência anímica descritos como “tiranos”, produzindo insensibilidade, inquietação, insegurança e espírito crítico. O resultado porém é sempre o mesmo, do velho pecado da separatividade, presente até no próprio nome do diabo...

Castaneda expõe muito bem a situação da humanidade sob o jugo dos obsessores. Coloca que estas entidades como que colonizando espiritualmente a humanidade, exatamente como quem cria gado ou galinhas, onde as pessoas são usadas como hospedeiras de obsessores que dominam as suas consciências. Contudo falta dizer quem coordena tudo isto, assim como quem trata de outro lado da proteção humana, para além do limitado alcance dos grupos de guerreiros toltecas. Embora se diga que os praticantes atuais trazem uma memória muito negativa das relações da magia com o poder, certamente houve um tempo que a paz e a espiritualidade era dominante, como na Idade de Ouro de Tula e Teotihuakan. Mesmo no Ocidente houve épocas que se praticou muito a expulsão dos maus espíritos, porém em nossos tempos liberais e hedonistas eles são até recebidos com tapete vermelho pelas instituições decadentes...

A psicanálise fala em anima e animus, porém quem pode dizer que essas energias não são negativas ou que não possuem aspectos nocivos? Acontece que estes conceitos podem dar margem para muito erro e confusão. A verdadeira parte feminina de um homem pode ser simplesmente a sua esposa, e de um mestre a própria humanidade -até porque o relacionamento é um valor maior do que o individualismo.

Quando a pessoa tem este anima ou animus negativo do encosto muito pronunciado, ela termina manifestando uma energia extremamente perniciosa contra os relacionamentos mais verdadeiros (como nas chamadas almas-gêmeas), porque será como oferecer a sombra do seu parceiro contra ele mesmo, exaltando assim o pior lado deste parceiro e criando uma atmosfera sempre muito propícia ao conflito. Aquele que recebe tal energia por sua vez, é como se estivesse consigo mesmo na sua pior versão, sendo puxado para baixo a todo momento, já que logo identifica esta energia como sendo idêntica à sua própria quando rebaixada, tendo então grandes dificuldades de lidar com a situação, posto já ter a sua própria energia para trabalhar, de modo a soma desta outra energia negativa termina por desequilibrar as coisas. Por isto se torna até mais fácil para as pessoas nestas condições terem relações mais comuns com pessoas diferentes, ficando praticamente impedidas de viver um verdadeiro amor...

O cultivo de atitudes condizentes com a própria natureza –naturalmente sem excessos ou desequilíbrio, o que já representa uma simples questão moral e espiritual- pode se revelar daí como uma das melhores formas de saneamento das energias obsessoras, juntamente com vida regrada e a prática de austeridades, assim como oração ou meditação e o próprio desapego.

Todos podemos ter um pouco da energia oposta, mas apenas para nos equilibrar, e nunca para negar a própria natureza e aquilo que nos foi superiormente destinado a ser. Por regra os relacionamentos conjugais permitem um equilíbrio natural; o homem traz a positividade e a energia de que a mulher carece, e a mulher traz o subjetivismo e a tranquilidade que o homem por sua vez necessita. De modo que a fragilidade do casamento na idade trevosa apenas pode reforçar os problemas espirituais.

Felizmente na atualidade já está havendo um refluxo nestas tendências errantes, através da busca por um novo equilíbrio, colocando barreiras em certos radicalismos sobre a “desconstrução dos gêneros”, quando na verdade se trata esta de uma construção extremamente positiva e necessária, sobretudo em termos espirituais; fora é claro outros extremos igualmente estéreis a serem da mesma forma evitados. E com isto começamos então a entrar nas respostas possíveis para os desafios da obsessão.

Para alguém se safar dos miasmas do carma é preciso valor e virtude, assim como pureza e constância. O efeito da obsessão pode causar grandes estragos na vida da pessoa. É preciso muito discernimento e esforço para se livrar desse problema. Porém respostas fáceis também seriam apenas uma outra forma de ilusão. O obsessor pode ser considerado como um dos aspectos dos desafios da iniciação.

Quanto aos esforços de manipulação dos espíritos pesados, incluindo a sua retirada do nosso campo astral, temos que os terreiros de umbanda e afins seriam mais efetivos do que as casas espíritas kardecistas. Estas podem ser mais úteis para questões gerais e amenidades, lembrando que o seu foco é nos próprios espíritos e não na magia ou feitiçaria, diferente pois dos terreiros que, por esta razão, também possuem uma atmosfera bem mais carregada. Não obstante, há que se ter em conta que o principal sempre será aquilo que cada um faz por si mesmo; somente assim é que poderemos chegar a receber as verdadeiras lições que a vida reserva para nós.

O problema da ilusão é central na espiritualidade, e Alice A. Bailey até elaborou um importante trabalho intitulado “Miragem – um Problema Mundial” -dando a devida importância ao assunto e testemunhando toda a sua atualidade-, então analisada sob três aspectos enquanto maya, ilusão e miragem, relacionados respetivamente aos planos físico, emocional e mental. Contudo,  apesar de também discorrer em muitos momentos com grande perspicácia sobre a Loja Negra, a autora raramente trata dos aspectos operativos dos trevosos nos termos da feitiçaria, a qual representa não raro um dos fatores de agravamento da problemática espiritual –questão que Blavatsky porém já trataria com maior especificidade. Não obstante, Bailey sugeriu muitas formas para enfrentar todos estes problemas. Na “Grande Invocação” que ofereceu ao mundo, a sua última estrofe reza:

 “Do centro a que chamamos a Raça dos Homens,

Que se realize o Plano de Amor e de Luz

E cerre a porta onde se encontra o mal!”

Esta oração se destina a orientar os discípulos nos trabalhos da transição planetária, porém também serve aos esforços do próprio indivíduo.  Nos termos dados da tripla ilusão (relacionada à Tríade inferior de Chakras), poderíamos denominar pois a estas portas como: a porta da preguiça, a porta do desejo e a porta do pensamento errático. E para se libertar de encostos e obsessões que estas condições inclinam, a melhor solução é com efeito fechar todas as portas “que se abrem para fora”, impedindo assim o acesso do Mal em suas diferentes formas, de modo a se utilizar estes centros para aquelas questões realmente internas ou espirituais, através justamente do emprego sistemático do amor e da luz.

 

Respostas e Soluções

 

Um dos primeiros passos na libertação do espírito é a própria consciência de que podemos estar com espíritos invasores. A obsessão é um problema espiritual –ou deveríamos talvez dizer “espírita”- que atinge todo tipo de pessoa independente de quem for. E é sempre bom lembrar que, mesmo quando as pessoas não estão na espiritualidade, a espiritualidade pode mesmo assim estar nelas, e o fato de não se estar muito consciente disso pode não ser a melhor das condições para enfrentar o problema.

A obsessão espiritual é um fenômeno comum e geralmente insuspeito. Como outras formas de doença está arraigada em nossos próprios apegos e desejos, aliás pode acontecer da pessoa desenvolver apego pelas próprias forças obsessoras enquanto reforço da negatividade do ego.

A cura natural passa pelo cultivo da virtude e do desprendimento, que no caso traz a contraparte do consórcio com forças de luz. Enfim sempre a velha máxima de “colhemos aquilo que semeamos”.

Então, a primeira coisa a dizer é que a pessoa deve ter o desejo de sair de maya, a ilusão, porque é exatamente isto que o obsessor significa, pois cada tem a ferramenta do seu próprio livre-arbítrio. A desobsessão espiritual pode ser alcançada então pela prática da virtude positiva em prol do auto refinamento

Chico Xavier escreveu: “De qualquer progresso ou desenvolvimento de aquisições no mundo, nada se obtém sem paciência, amor, educação e serviço; como quereis que a obsessão -que é frequentemente desequilíbrio cronificado da alma- venha a desaparecer sem paciência, amor, educação e serviço, de um dia para o outro? (“Paz e Renovação”, Capítulo 48, Obsessão e Cura, of 135)

Por isto também foi dito por Divaldo Franco: “Muitos procuram a Casa Espírita para resolver seus problemas espirituais. Querem livrar-se de obsessores, de preferência rapidamente. Mas o que devemos deixar bem claro para os que nos procuram é que a cura depende dela mesma. A Casa Espírita é um hospital da alma, mas se o paciente não tomar o medicamento corretamente, este não fará efeito. E o medicamento está no Evangelho de Jesus, que nos pede a reforma íntima, ou seja, a reforma em nossos sentimentos, pensamentos e atos. Retirando dela o ódio, o rancor, a mágoa, o ressentimento, a vingança.”Fonte

Aquele que pratica austeridades também está mais próximo de conhecer a dinâmica dos obsessores, por que consegue com mais facilidade afastá-los de si próprio. E nós sempre gostamos de lembrar que Jesus não era desapegado por que era espiritualizado, e sim era espiritualizado por ser desapegado...

É neste quadro pois que entra a célebre questão do herói que precisa despertar a donzela de um feitiço, resgatá-la de um sequestro ou trazê-la de volta dos infernos –nota-se que o problema espiritual é visivelmente dominante na mulher, até porque o próprio raptor é muitas vezes também um bruxo poderosos como no caso de Ravana no Ramayana.

Isto não significa que o homem não esteja sujeito ao mesmo grau de obsessão, a única diferença é o próprio papel ativo masculino, que o coloca em obra para encontrar soluções. O princípio é o mesmo que vale para o da salvação espiritual em geral, quando seres de grande elevação podem interceder espiritualmente por seus discípulos no mundo. Contudo, reciprocamente, a mulher também tem intervindo para ajudar o homem na sua evolução, e mesmo para salvá-lo nas suas provações, como sugerem muitos celebrados mitos tradicionais. Na prática apenas o amor e a própria colaboração de ambos é que poderá trazer as grandes respostas necessárias.

De modo a ficar claro nisto tudo, que respeitar o princípio do próprio gênero também pode representar um preceito espiritual. O amor verdadeiro é visto muitas vezes como um troféu, mesmo nos planos espirituais, para desenvolver o valor e a virtude das pessoas.

A resposta para cada caso vem a ser portanto a indagação de “quem sou eu”, quer dizer, partindo da ideia universal da identidade de gênero avançar para a essência pessoal de cada um. Tradicionalmente a questão dos gêneros está simbolizado em termos de cálice e espada, ainda que cada gênero também traga o seu oposto dentro de si para esta ou aquela finalidade. E neste caso tanto o interior como o exterior de cada gênero deve ser trabalhado corretamente.

Em tempos confusos como os nossos, onde “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, refazendo a própria imagem do Caos original, a busca pela própria identidade pode representar pois muitas vezes um primeiro passo. É claro que a resposta final será um tanto comum ou universal –a Alma não tem gênero, se poderia até dizer. A verdadeira questão, porém, é sobre os caminhos que poderão nos levar até ela. É aqui onde cada um deve saber como pode chegar a se desenvolver melhor.

Se a pessoa tem afinidade com o orientalismo, é importante refletir então sob todos os aspectos de Kali, a deusa do Kali Yuga, como sua versão enquanto Durga a destruidora ou mesmo seu marido Shiva, o Senhor da Ioga. O aspecto feminino pode representar aqui as consequências da atitude passiva da pessoa, lembrando que mesmo a destruição pode em última análise contribuir para a evolução -como ocorre no caso da morte que outorga uma nova oportunidade de reencarnação para o espírito em evolução. Tal como o aspecto masculino pode simbolizar aquilo que deve ser feito para controlar essas energias, no caso basicamente o próprio ascetismo e todas as técnicas afins.

Vasto é o universo da ioga, e o sistema clássico de oito passos de Patanjali oferece um método didático e progressivo para a pessoa organizar e ultrapassar todos os níveis da sua evolução até alcançar a iluminação, isto é, a libertação completa da consciência. Algumas escolas questionam porém os estágios mais avançados afirmando que as técnicas da verdadeira meditação está mais ou menos perdida; ainda assim o buscador persistente poderá terminar por encontrar as respostas, bastando para isto ter em mente que à luz (ou o “fogo”) representa o grande elemento de purificação das coisas. É muito importante compreender então que o fogo comumente observado nas imagens tântricas, não são apenas um resultante da iluminação -são também o próprio caminho para ela!

Geralmente o fogo está aparente nas chamadas deidades iradas, que na realidade são apenas deidades ativas ou simbólicas das fases mais criativas e avançadas das práticas espirituais. Esse fato inclui também a imagem do próprio Shiva dançarino com seu círculo de fogo.

Lembremos aqui que os Tantras são apresentados como a grande literatura do Kali Yuga, por oferecer os recursos mais adequados. Os métodos de meditação na luz de que tratamos –consideradas avançadas em nossos dias- remontam aos princípios da raça árya, próximo ao momento do avatar Krishna que, segundo a versão mais aceita, veio abrir este último período do Kali Yuga. Há registros destas técnicas nas tumbas egípcias de faraós ligados ao culto solar, como temos divulgado já.

Algumas técnicas tântricas são bastante esotéricas, tanto quanto ascéticas e internas, como a ioga do calor interior e o corpo de arco-íris. Outros são mais formais como é a ritualística. Há também as mandalas como roteiros místicos e a magia sexual que comporta ademais um simbolismo importante para a meditação.